A informação que corria como boado há várias semanas em Cuba se tornou oficial nesta segunda-feira (13/9): o governo vai demitir mais de meio milhão de servidores públicos até março do ano que vem. Um comunicado da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) divulgado a medida, justificada para “manter o controle sistemático do andamento do processo”.
O comunicado informa a “redução de mais de 500 mil postos de trabalho no setor estatal e, paralelamente, o aumento no setor privado”. O processo, diz o texto, será realizado “até o primeiro trimestre de 2011”.
De acordo com o apurado pela agência de notícias espanhola Efe, alguns órgãos do Partido Comunista de Cuba – único no país – já foram instruídos para explicarem aos trabalhadores o que está por vir. Outros já orientaram os funcionários públicos a elaborarem “listas” de pessoas mais necessárias – ou menos.
O economista Juan Triana, pesquisador do Centro de Estudos da Economia Cubana, reconheceu em conversa com a Efe que a medida é difícil de tomar em um país onde a força de trabalho é de 3 milhões, mas lembrou que já existem 500 mil trabalhadores no setor privado.
“As contas do Estado já estão saturadas e é muito duro para qualquer governo, mas já não existe mais remédio”, disse Triana.
Para ele, a absorção dos desempregados deverá ficar a cargo de “pequenas empresas, cooperativas e empresas familiares, pois não acho que Cuba possa inventar nada novo”.
O comunicado da CTC não garante uma nova função para quem for demitido, mas sugere um “horizonte de opções com novos tipos de empregos não estatais como arrendamento, usufruto, cooperativas e o trabalho por conta própria para onde se deslocarão milhares de trabalhadores nos próximos anos”.
Em Cuba, existem centenas de atividades e de negócios que fogem ao controle público, nos setores de transporte, alimentação, turismo e quase todos os tipos de serviço. Mas, para o economista dissidente Óscar Espinosa Chepe, a burocracia exigida da iniciativa privada dificulta que essas atividades sejam legalizadas. Segundo ele, os problemas poderiam ser resolvidos com o desenvolvimento de um modelo tributário mais eficaz.
Enxugar
Paradoxalmente, o discurso de Espinosa e de outros economistas contrários ao regime parece cada vez mais com o do próprio governo: o comunicado da CTC reconhece que há “mudanças necessárias e inadiáveis a serem introduzidas na economia e na sociedade para transformar e tornar mais eficiente o atual processo de trabalho”.
Foi o presidente Raúl Castro, em discurso realizado no dia 1º de agosto, que enfatizou na necessidade de introduzir mudanças e enxugar o governo inchado, o que acabou sendo feito em excesso com mais de um milhão de pessoas.
“Ninguém ficará abandonado a sua própria sorte” porque “o Estado Socialista oferecerá o apoio necessário para uma vida digna”, disse Raúl na ocasião.
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