Nesta sexta-feira, à meia-noite, termina o prazo dado à Assembleia Nacional francesa para analisar o projeto de reforma da Previdência. Em seguida, o texto seguirá para o Senado. Os jornais franceses desta sexta-feira (17/02) se debruçam sobre os diferentes aspectos desta reforma, bem como as discussões em plenário e a mobilização nas ruas.
As deputadas de esquerda denunciam o machismo de seus colegas e geram calorosos debates, enquanto o artigo 7, o mais polêmico, que trata de adiar a idade mínima legal para a aposentadoria de 62 para 64 anos, ainda não foi debatido pelos parlamentares.
“Em Paris, onde 300 mil pessoas se manisfestaram nesta quinta-feira, segundo a CGT, os manifestantes temem que o debate sobre o aumento da idade mínima legal nunca ocorra na Assembleia Nacional e esperam um bloqueio do país, para fazer o governo reagir”, escreve Libération.
“Após nove dias de debates épicos, os deputados iniciam nesta sexta-feira o último dia de análise da reforma da Previdência, em um clima que promete ser eletrizante à medida em que diminuem chances de se abordar a medida-chave, sobre o adiamento da idade mínima legal”, aborda Le Parisien.
Le Figaro, por sua vez, destaca o suposto machismo entre os parlamentares. “A tensão aumentou na noite de quinta-feira na Assembleia Nacional. Enquanto os deputados debatiam as desigualdades salariais, um discurso da deputada da esquerda radical Ersilia Soudais colocou lenha na fogueira.”
'Burburinho'
O que estava em questão foram gritos de vários parlamentares durante seu discurso, alguns dos quais pedindo que ela falasse mais baixo.
Atos que desagradaram fortemente a aliança de esquerda Nupes. “Quando uma mulher fala, há um burburinho inacreditável neste plenário. É inaceitável para todas as nossas colegas”, disse uma deputada do grupo, apoiada por seus colegas de aliança, inclusive os homens.
Sandrine Rousseau/Twitter
Ecologista Sandrine Rousseau, que também faz parte da aliança de esquerda, desabafou na Assembleia Nacional
Esta fala, por sua vez, causou revolta entre as deputadas de direita e as governistas, que disseram que a deputada do partido A França Insubmissa não pode falar em nome de todas as mulheres e que elas não lhe elegeram porta-voz.
Se dirigindo aos colegas homens que a importunavam quando falava, a ecologista Sandrine Rousseau, que também faz parte da aliança de esquerda, acrescentou: “Pensei que vocês não fossem machistas!”. E disse aos deputados da maioria: “Não é porque temos uma mulher na presidência da Assembleia Nacional que vocês não são machistas”. A deputada terminou enfática: “Deixem nossos úteros em paz”.
Enquanto os deputados de esquerda se engalfinham com os governistas e os parlamentares de direita, o partido de Marine Le Pen, de extrema direita, segue silencioso na Assembleia, destaca FranceInfo. O portal de notícias vê nesta postura dos extremistas de direita uma estratégia para “desdemonizar” a legenda, ou seja, melhorar a imagem, acabar com o estigma de radicalismo e deixá-lo mais palatável para as eleições presidenciais de 2027.
No quinto dia de manifestações populares contra a reforma, em todo o país, houve menos adesão do que nos protestos precedentes. Os jornais destacam que se trata de uma estratégia dos sindicatos, que se preparam para bloquear completamente o país no próximo dia de greve anunciado: 7 de março.