Políticos da direita regional se reuniram em Buenos Aires nesta semana, com a presença de ex-presidentes, para o aniversário de 35 anos da Fundação Libertad, centro de estudos de direita na Argentina. Criticado por deputados progressistas do país, o ex-juíz e atual senador Sergio Moro compareceu ao evento, e aproveitou a noite de gala, que aconteceu na noite desta segunda-feira (27/03), para dirigir elogios à possível candidata à presidência no país, Patricia Bullrich, por seus anos como ministra da Justiça do governo de Mauricio Macri – outro presente no evento.
“Um cumprimento especial à nossa amiga Patricia Bullrich”, disse Moro. “ Eu me considerava um ministro linha dura. Quanto estive aqui em Buenos Aires a convite da ministra, pude ver que ela também era uma ministra linha dura contra a criminalidade”, destacou o ex-juíz, que foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Ele disse não querer “interferir na política argentina”, mas enfatizou estar “de olho nas eleições” que acontecem este ano no país.
A gestão de Bullrich foi marcada por políticas de repressão no país, tendo impulsionado a perseguição dos povos indígenas da Patagônia, zona rica em recursos naturais de interesse de multinacionais.
Deputados da coalizão governista Frente de Todos repudiaram a presença de Moro pela interferência que empenhou no processo democrático no Brasil. “Não surpreende que esse personagem apareça ao lado de Macri”, destacou o deputado portenho Juan Manuel Valdés. “Ambos manipulam a Justiça com fins políticos”, escreveu em sua rede social. Valés destacou que o encontro tratava-se do “simpósio da Fundação mal chamada Liberdade, quando abarca tudo de mais retrógrado do pensamento latino-americano”.
A deputada María Bielli também se pronunciou sobre a presença de Moro em Buenos Aires, repudiando a presença do ex-juíz que fez com que Lula “passassse 580 dias preso e sem poder se candidatar à eleição no Brasil”. “Hoje Moro esteve na Legislatura, convidado pelas mesmas pessoas que usam os tribunais daqui para proscrever Cristina [Fernández de Kirchner]”, acrescentou a legisladora.
Ex-juíz Sergio Moro com os ex-presidentes argentino Mauricio Macri, o chileno Sebastián Piñera e o mexicano Felipe Calderón, entre outros
Articulação da direita
O evento também contou com a presença dos oradores convidados Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile, Felipe Calderón ex-presidente do México, Jorge Quiroga, ex-presidente da Bolívia. Figuras da direita espanhola também compareceram e discursaram no evento, como a deputada espanhola Cayetana Álvarez de Toledo, do conservador Partido Popular e a presidenta da Comunidad de Madri, Isabel Díaz Ayuso, do mesmo partido, negacionista da emergência climática. O Partido Popular rompeu há poucos dias com o partido de extrema-direita Vox, corrente que articula com a extrema direita e negacionista mundial nos últimos anos.
Abundam menções de repúdio às políticas e movimentos progressistas na região. O presidente da Fundação, Gerardo Bongiovanni, destacou a “necessidade da união da direita latino-americana para derrotar o Foro de São Paulo”.
O ex-presidente argentino Mauricio Macri compareceu na noite de gala, um dia após ter publicado um vídeo desistindo de sua candidatura à presidência. Com alta rejeição, o ex-presidente e magnata contraiu a dívida de US$ 45 bilhões (cerca de R$ 232 bilhões) que mantém a Argentina condicionada ao Fundo Monetário Internacional.