Os deputados britânicos aprovaram nesta quinta-feira (21/04), por consenso, a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar se o primeiro-ministro conservador Boris Johnson mentiu para a Câmara, no âmbito do “partygate”, o escândalo sobre as várias festas organizadas em Downing Street durante o pior período da pandemia. A decisão coloca o premiê em uma situação política ainda mais delicada.
Muitos deputados da maioria conservadora estavam ausentes na apreciação da matéria na Câmara dos Comuns, nesta tarde. Os legisladores aprovaram, sem necessidade de votação, uma moção apresentada pela oposição para a abertura da investigação.
Os deputados querem saber se Johnson induziu conscientemente o Parlamento a interpretar de maneira equivocada as festas realizadas na sede do governo britânico, apesar das restrições em curso para controlar a disseminação da pandemia de covid-19. Em um primeiro momento, o líder negou que suas equipes e ele próprio tivessem violado as medidas sanitárias em vigor.
A polícia, entretanto, aplicou uma multa ao premiê por desrespeito às regras impostas pelo governo. O caso coloca o primeiro-ministro sob pressão desde o início do ano – alguns deputados do seu Partido Conservador pedem a demissão de Johnson, que nesta quinta-feira estava em viagem oficial à Índia no momento da apreciação da moção em Londres.
Conservadores pedem renúncia
Em um debate que precedeu a apreciação, o deputado conservador Steve Baker, uma das figuras da campanha a favor do Brexit, declarou que Johnson deveria renunciar. “Ele deveria ter partido há muito tempo”, afirmou Baker, alegando que “o show acabou” para o premiê.
Downing Street
Johnson (centro) será alvo de CPI por festas na pandemia
O deputado conservador William Wragg, crítico do líder do seu partido, também voltou a pedir a renúncia de Boris Johnson. “Não consigo aceitar o fato de que o primeiro-ministro continue a liderar nosso país”, disse ele. “O partido carrega as cicatrizes dos erros de julgamento de sua liderança (…). É bastante desanimador ter que defender o indefensável”, comentou.
“O primeiro-ministro foi acusado de ter induzido a Câmara ao erro de maneira repetida, deliberada e rotineira, sobre as festas organizadas em Downing Street durante o lockdown”, frisou, por sua vez, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer. “É uma acusação séria e grave, e equivale a desprezar o Parlamento”, complementou.
Johnson pede desculpas
Na terça-feira, Johnson pediu desculpas aos deputados, a quem ele afirmou não ter enganado com plena consciência. O governo tentou atrasar ao máximo o voto dos deputados, até que a polícia finalizasse as investigações – que ainda podem resultar em novas multas ao premiê.
Mas conservadores demonstraram constrangimento com a ideia de ter que se opor a uma apuração minuciosa das ações de Boris Johnson, que abalaram a confiança dos britânicos no governo. O porta-voz de Johnson afirmou que os conservadores foram informados de que poderiam votar como quisessem ou não participar da votação.
Enganar deliberadamente o Parlamento constitui uma violação do código ministerial e, por convenção, espera-se que os ministros acusados disso renunciem. Para forçar Boris Johnson a deixar o cargo, 54 dos 360 conservadores eleitos devem enviar uma carta de desconfiança ao presidente da “Comissão de 1922”, um grupo parlamentar dos Tories na Câmara dos Comuns.