Pelo menos 90 pessoas morreram em um desmoronamento de terra em uma mina de jade no estado de Kachin, no nordeste de Mianmar, que sepultou dezenas de precárias cabanas onde viviam os mineiros, informou neste domingo (22/11) o site Democratic Voice of Burma.
O deslizamento ocorreu nesta madrugada em Hpakant. Uma coluna de terra e resíduos de pelo menos 80 metros caiu sobre 70 cabanas, disseram testemunhas.
O acidente ocorreu quando alguns cidadãos locais escavavam as montanhas de pedras desprezadas pelas companhias mineradoras com a esperança de encontrar uma peça de jade despercebida pelos operários.
Reprodução/Euronews
Pelo menos 90 morreram em deslizamento de terra em Mianmar
Segundo as autoridades, o deslizamento matou os que buscavam jade e outros muitos que dormiam nas barracas. “Só escaparam da avalanche cinco cabanas. Pode ser que haja uma centena de mortos”, afirmou um morador ao jornal Global New Light of Mianmar.
Hpakant, a mais de 1.100 quilômetros ao norte de Yangun, a antiga capital, é um remoto distrito que fica em uma região montanhosa onde há muitas minas de jade.
Mianmar é o maior produtor de jadeíta do mundo, uma cobiçada variedade de jade, principalmente nas montanhas de Kachin, onde o exército combate desde 2011 a guerrilha da minoria kachin.
A Global Witness denunciou mês passado as precárias condições de trabalho dos buscadores de jade nas minas, que são de propriedade de senhores da guerra, narcotraficantes ou generais da antiga junta militar. Em um relatório, a ONG afirmou que o comércio destas gemas está avaliado em US$ 31 bilhões (cerca de R$ 117 bilhões), a metade do Produto Interno Bruto de Mianmar.
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No entanto, o números oficiais são mais baixos devido ao tráfico de jade, que tem a China como um dos principais clientes.
As duras condições das minas afetam os trabalhadores, que algumas vezes usam drogas como metanfetamina para combater o cansaço e terminam viciados, enquanto o exploração sem controle contaminou terras e rios, segundo a Global Witness.
Durante séculos, as inóspitas serras do norte do que hoje é Mianmar eram evitadas pelas caravanas de mercadores que temiam encontrar as tribos kachin, historicamente guerreiros ferozes e caçadores de cabeças.
Hpakant, apesar de estar no meio do conflito étnico, é conhecida como “a pequena Hong Kong”, por seu comércio de artigos de luxo alimentado pelo lucrativo tráfico de jade.
Mianmar, submetida a diferentes juntas militares desde 1962, cedeu o poder a um governo civil em 2011 e iniciou reformas políticas e econômicas. A líder opositora e Nobel da paz, Aung San Suu Kyi, ganhadora das últimas eleições, se comprometeu a trabalhar para garantir a sustentabilidade na exploração dos recursos naturais de Mianmar, um país rico em gás natural, florestas e pedras preciosas.