O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta quinta-feira (18/07), a visita de Eduardo Duhalde, ex-presidente da Argentina entre 2002 e 2003. Acompanhado do escritor e sociólogo Emir Sader, o argentino denunciou a prisão de Lula, que já dura 468 dias.
Duhalde é o quinto ex-chefe de Estado a visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Já estiveram com o ex-presidente Pepe Mujica (Uruguai), Ernesto Samper (Colômbia), Massimo D’Alema (Itália) e Dilma Rousseff.
Após o encontro privado, os amigos do ex-presidente visitaram a Vigília Lula Livre para comentar as impressões do diálogo, que durou mais de uma hora e meia, no interior da carceragem. “Eu estarei no Brasil no dia em que ele sair, mas sair do jeito que deve sair um homem de bem, sem negociar a liberdade. A dignidade não se negocia. Essa é a posição do meu querido amigo Lula”, enfatizou Duhalde.
Os líderes trabalharam juntos durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), que coincidiu com o mandato de Duhalde no país vizinho. Aos 77 anos e emocionado com a visita, o argentino, que antecedeu Néstor Kirchner, destacou as raízes que sempre o uniram com o petista.
“Eu estou muito feliz. Fui o primeiro presidente argentino surgido do movimento de trabalhadores. Tenho por Lula um especial carinho. É o único amigo fora da Argentina. Trabalhamos juntos, muitos anos, pela integração sul-americana”, disse.
Por ocasião de uma visita de trabalho de Duhalde em Brasília, em 14 de janeiro de 2003, Lula e o argentino lançaram um comunicado em que indicavam o Mercado Comum do Sul (Mercosul) como um projeto estratégico. Para avançar na direção da integração, os líderes decidiram aprofundar a liberalização dos fluxos de comércio entre os países do bloco e a consolidação da União Aduaneira.
O bloco econômico regional é o mesmo que o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer “mais enxuto, dinâmico e sem viés ideológico”, conforme declaração dada nesta quarta-feira (17/07) na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina.
Joka Madruga
Duhalde (esq.) e Sader visitaram ex-presidente Lula
No último dia 4, Lula também recebeu outro importante apoio do país vizinho: Alberto Fernández. O favorito à presidência da Argentina, nas eleições de outubro, tem como companheira de chapa a ex-presidente Cristina Kirchner.
Emir Sader
Duhalde, assim como Sader, apareceu sorridente e entusiasmado após a visita. No entanto, ambos lamentaram as circunstâncias que os levaram até o ex-presidente.
“Emocionante e absurdo, porque quem deveria estar presidindo o Brasil está preso e quem deveria estar preso está presidindo. O Brasil está de cabeça para baixo”, avaliou Sader.
O sociólogo manifestou esperança, mas também indignação com a situação de “um líder de todo o Brasil, para sempre”. Para ele, se trata de um convite para a mobilização popular, também um dos destaques do petista.
“Ele sabe que vai sair e voltar a ser presidente do Brasil. Ele está preparado para isso, informado, analisa e conversa. Agora, é uma brutalidade deixar o Lula preso. A nossa vontade era pegar a mão dele e falar: ‘vamos sair, Lula, seu lugar não é aqui, cercado por esses chacais. Seu lugar é lá fora, na Vigília, com o povo’”, assegurou.
Sader afirmou que Lula está muito bem, no entanto indignado não apenas com fatores jurídicos que o mantém preso, mas também “com o que estão fazendo com o país”.
“[Ele está] mais maduro, mais reflexivo, tirando lições das experiências nossas e muito preocupado não só com a situação do Brasil, mas com a necessidade de uma resposta mais massiva e sistemática da parte do movimento popular. Como ele disse, esse governo dá, todos os dias, razões para a gente se mobilizar cada vez mais”, avaliou o sociólogo.
“Hoje eu o vi forte, mais forte do que nunca. Bravo com a situação, mas certo de que sairá para poder liderar seu povo”, completou o advogado argentino.
Preso desde abril de 2018, Lula tem direito à visita de dois amigos por semana, sempre às quintas-feiras. Nas próximas semanas, ele também deve receber o ex-primeiro-ministro da Espanha, José Zapatero.