No discurso de abertura da 70ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nesta segunda-feira (28/09), a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, destacou a expansão do terrorismo e de conflitos regionais como fatores que geraram uma crise humanitária de refugiados. “Em um mundo onde circulam livremente mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas”, declarou.
Dilma abriu sua fala ao recordar que já se passaram 70 anos desde a Conferência de São Francisco, que buscava um mundo fundado no direito internacional e na busca de soluções pacíficas para conflitos. Segundo a presidente, apesar dos avanços nos processos de descolonização, nas questões de gênero e de raça, a segurança coletiva falhou nos últimos tempos.
Leia íntegra do discurso de Dilma Rousseff na ONU
EFE
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discusa diante de quase 200 líderes mundiais, na sede das Nações Unidas em Nova York
“Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie, como aqueles perpetrados pelo chamado Estado Islâmico e por outros grupos associados. Esse quadro explica, em boa medida, a crise dos refugiados pela qual passa atualmente a humanidade”, argumentou.
Ao citar o menino sírio Aylan Kurdi, fotografado já sem vida em uma praia turca e o caso das 72 pessoas encontradas asfixiadas em um caminhão na Áustria, Dilma ressaltou a importância de uma rápida reação da comunidade internacional e o papel de cada país em fazer sua parte.
“O Brasil é um país de acolhimento, estamos de braços abertos para receber refugiados”, declarou, sob aplausos de uma plateia com quase 200 líderes mundiais. “Recebemos sírios, haitianos, pessoas de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Somos um país multiétnico, que convive com as diferenças e sabe a importância delas para nos tornar mais fortes, ricos e diversos”, acrescentou.
Relembre discurso de Dilma na Assembleia Geral da ONU de 2014
Para resolver essas questões, Dilma propôs o que chama de “uma reforma abrangente de estrutura” das Nações Unidas, por meio do Conselho de Segurança. A chefe de Estado reforçou a necessidade de o órgão ampliar seus membros — permanentes e não permanentes — a fim de torná-lo mais “efetivo e representativo”.
Ao longo de seu discurso, a presidente brasileira ainda comentou algumas conquistas e pontos sensíveis nas relações exteriores. Segundo ela, “não se pode postergar a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com Israel”, assim como não se pode mais permitir a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia, ação considerada ilegal conforme o direito internacional.
Ichiro Guerra/PR
Citando as conquistas brasileiras, DIlma ressaltou que em 2014 o Brasil saiu do mapa mundial da forme
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Além disso, Dilma elogiou o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA na região, classificada por ela como um local onde “impera a paz e a democracia”. Apesar de comemorar o anúncio, a petista diz esperar que esse processo seja finalizado com o fim do embargo econômico norte-americano sobre a ilha.
Em Nova York, a chefe de Estado também celebrou o acordo das potências mundiais com o Irã, comentou a inauguração do novo banco de desenvolviemnto dos Brics e os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável. Ela recordou que em dezembro ocorrerá a conferência sobre o clima (COP 21), em Paris, destacando — como em seu discurso de domingo (27/09) — que o Brasil “faz grande esforço” para cumprir “metas ambiciosas” no combate à mudança climática.
Panorama nacional
Citando as conquistas brasileiras, DIlma ressaltou que em 2014 o Brasil saiu do mapa mundial da forme e que luta agora para assegurar condições dignas de trabalho justo e decente.
Durante seu discurso, ela também citou a crise econômica pela qual passa o país, relembrando a crise global de 2008. “Por seis anos tentamos evitar que os efeitos da crise global nos afetasse. Esse esforço chegou agora em seu limite”, declarou.
Ao comentar a situação das contas públcias e a desvalorização cambial, a presidente afirmou que foi necessário assumir uma forte redução de despesas e parte de investimentos, além de reorganizar o quadro fiscal para retomar o cresciemnto. Segundo ela, trata-se de um momento de transição e o Brasil passa por problemas conjunturais, não estruturais. “No Brasil, o processo de inclusão social não foi interrompido”, garante.
No fim de sua fala, Dilma ainda assegurou o combate à corrupção, convidou a plateia aos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro e disse que o confronto de ideias faz parte do processo democrático e deve se dar em um ambiente livre e diverso. Aludindo ao colega e ex-presidente uruguaio José Mujica, ela reforçou que a democracia não é perfeita, porque não somos perfeitos, mas temos que defendê-la”.
No salão nobre, Dilma Rousseff ainda recordou o retorno dos dois murais do pintor brasileiro Cândido Portinari — “Guerra” e “Paz” — que voltaram ao prédio da sede em Nova York no início deste mês.
“A 'Paz' de Portinari transmite as Ideias que estiveram nos atos de fundação dessa grande conquista da humanidade, as Nações Unidas”, declarou. “A obra denuncia a violência, a miséria e exorta os povos ao entendimento. A mensagem dos murais permanece atual”.
Patrícia Dichtchekenian/opera Mundi
Painéis de Portinari foram reinaugurados em nove de setembro deste ano, em cerimônia com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon