Diante da pressão da Justiça e de diversos setores da sociedade civil que pedem a sua renúncia, a presidente do Peru, Dina Boluarte, fez um pronunciamento em rádio e televisão nesta sexta-feira (13/01), para falar sobre as mortes durante as manifestações que vêm acontecendo com frequência no país desde dezembro.
A mandatária fez um primeiro gesto de reconhecimento de alguma responsabilidade pela atual situação, ao iniciar sua declaração pedindo desculpas à cidadania pelas 47 vítimas fatais [46 civis e um policial] registradas entre 10 de dezembro e 11 de janeiro, a maioria delas causada pela extrema violência utilizada da Polícia Nacional contra os atos que exigem a antecipação das eleições no país.
“Peço desculpas por esta situação e pelo que não foi feito para evitar os trágicos acontecimentos. Mas, assim como peço desculpas, como presidente peço que rejeitemos a violência. Os peruanos são pacíficos, somos um povo solidário que lutou, enfrentou obstáculos e adversidade para seguir em frente”, afirmou a presidente.
Sobre os pedidos de setores da oposição e de organizações sociais para que ela renuncie à presidência, Boluarte disse que “minha posição é a de agir de forma responsável. Não vou renunciar! Meu compromisso é com o Peru e não com esse grupinho que está fazendo o país sangrar”.
A presidente evitou criticar o atuar excessivamente repressivo da Polícia Nacional durante as manifestações, e apontou a responsabilidade pelas mortes a “algumas vozes que vêm dos violentos e radicais pedem minha renúncia, incitando a população ao caos, à desordem e à destruição”.
Presidência Peru
A presidente do Peru, Dina Boluarte, durante pronunciamento à nação
Ela também fez alusões a supostos “instigadores e infiltrados estrangeiros” como provocadores da violência durante as manifestações. “Que tudo seja investigado. Precisamos de resultados rápidos para identificar os verdadeiros responsáveis pelos atos violentos e garantir que a justiça chegue às famílias dos falecidos”, afirmou.
O pedido de desculpas de Boluarte foi manifestado horas depois de Eduardo García renunciar ao cargo de ministro do Trabalho, em solidariedade às famílias das vítimas de manifestantes mortos. O ex-funcionário anunciou a decisão através de uma carta à presidente, na qual ele também sugeria justamente que ela fizesse um gesto de retratação para todo o país.
Vale lembrar que seu governo decretou estado de emergência em todo o Peru no dia 28 de dezembro, e a medida continua vigente, sem prazo para terminar. Além disso, nas províncias onde são registradas manifestação com mais frequência [como Ayacucho, Puno, Cusco e Junín] também foi decretado toque de recolher a partir das 21h.
Boluarte e três dos seus ministros estão sendo investigados pela Justiça peruana por sua possível responsabilidade pelas 47 mortes registradas nos últimos 35 dias – segundo estatísticas contabilizadas pela Coordenadora Nacional de Direitos Humanos do Peru (CNDDHH).
O caso está sendo liderado pela procuradora Patricia Bonavides, a mesma que comanda a investigação contra o ex-presidente Pedro Castillo por possível crime de atentado contra as instituições – pelo qual este se encontra em prisão preventiva desde 7 de dezembro.
(*) Com RT News.