Setores da oposição venezuelana anunciaram nesta sexta-feira (30/12) que deixaram de reconhecer o chamado “governo interino”, que era encabeçado pelo ex-deputado Juan Guaidó, desde que este se autoproclamou presidente em 2019 – apesar de nunca ter vencido ou sequer disputado uma eleição presidencial.
A decisão ocorreu em uma reunião dos partidos da chamada Mesa de Unidade Democrática (MUD), que incluiu os representantes da Assembleia Nacional [Legislativo unicameral da Venezuela] eleitos em 2015, cujos mandatos já não têm mais validade, mas que eram os que sustentavam o discurso de que Guaidó era o verdadeiro presidente legítimo do país – e que eles mesmos também eram deputados ainda vigentes, porque todas as eleições posteriores foram fraudadas.
A “sessão extraordinária” desse parlamento sem mandato contou com a presença de ex-parlamentares e presidentes de partidos como Primero Justicia, Acción Democrática, Un Nuevo Tiempo e Movimiento por Venezuela.
Ao final, decidiu-se fazer uma votação, na qual 72 representantes apoiaram a proposta de desistir de Guaidó e da narrativa do “governo interino”. Também houve 29 votos contra a proposta e oito abstenções.
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O autoproclamado ‘presidente interino’ Juan Guaidó, que já não ocupa mais o seu cargo fictício
Esta decisão ocorre no âmbito dos diálogos que o governo do verdadeiro presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem promovido e mantido com a oposição do país, de forma a buscar uma solução dialogada para o conflito político.
A figura do governo interino não está prevista na Constituição do país e carecia de reconhecimento pleno a nível internacional: alguns países o apoiaram, especialmente os Estados Unidos e seus aliados mais próximos, mas nunca foi aceito pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela maioria dos países do mundo.
Ademais, mesmo os aliados de primeira hora foram abandonando Guaidó nos últimos anos, inclusive Washington e Bruxelas. Em parte, porque esses países passaram a necessitar mais da Venezuela de Maduro a partir da crise energética provocada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Contudo, também influi na decisão o fato de que o líder opositor venezuelano vinha acumulando escândalos de corrupção durante seu suposto interinato.
O Brasil, que ainda tem Jair Bolsonaro como presidente, é um dos últimos que ainda o reconhecem, mas essa situação certamente mudará quando Luiz Inácio Lula da Silva assuma seu terceiro mandato presidencial, neste domingo (1/1).