A última quarta-feira (09/09) foi marcada por uma grande tensão politica na Argentina. Policiais em greve cercaram a residência oficial do Alberto Fernández em meio a protestos por reajuste salarial e negaram dialogar com as autoridades. A atitude acendeu temores de um possível golpe no país, já que roteiro semelhante foi seguido na Bolívia – resultando na queda do então presidente Evo Morales – e vem crescendo no Brasil.
Mas, quem são os líderes do movimento? Segundo a imprensa argentina, a liderança é difusa, mas alguns oficiais e ex-oficiais se destacam. Entre eles, alguns afastados da corporação por problemas psiquiátricos, outros aposentados e aqueles que tentam uma projeção política maior.
De acordo com o jornal Página/12, um dos protagonistas do movimento é o tenente Aldo Oscar Pagano, que chegou a subir em uma antena da região da Ponte 12, em Buenos Aires, um dos locais de concentração dos manifestantes. Pagano ficou afastado durante 11 anos da polícia por razões psiquiátricas e apareceu em uma foto com um militante do PRO (Proposta Republicana), partido do ex-presidente Mauricio Macri. Nas redes sociais, ainda segundo o jornal, “combina erros de ortografia e insultos ao governo”.
Outro que apareceu em destaque – vestido com uniforme militar –durante os protestos é o capitão Mariano Díaz, que também foi afastado de suas funções na polícia após intervir em um motim em 2014. De acordo com o Página/12, Díaz apareceu reclamando das condições de veículos policiais durante o protesto na Ponte 12. Os carros exibidos na manifestação, no entanto, estavam em conserto e foram levados de propósito para montar um “cenário”.
Argentina: Policiais em greve cercam residência oficial de Fernández
Já na frente da Quinta de Olivos, residência oficial do presidente Alberto Fernández, outro policial exonerado comandava a manifestação com microfone na mão: o capitão Sandro Adrián Amaya. Segundo a emissora C5N, Amaya foi afastado da corporação por estar supostamente envolvido em um processo de “infração à lei de drogas”.
Ele, que se autoproclamou porta-voz do movimento, até chegou a se oferecer para entrar na residência oficial e conversar com o presidente – mas somente se a imprensa pudesse acompanhar a reunião.
Reprodução/C5N
Emissora revelou que um dos "porta-vozes" do movimento tem suspeita de envolvimento com drogas
Reajuste
Nesta quinta-feira (10/09), o governador da província de Buenos Aires, o kirchnerista Axel Kicillof, anunciou um reajuste aos policiais da região. Mais de 39 mil oficiais passarão a receber 44 mil pesos mensais (cerca de R$ 3.100), além de outras gratificações, cujos valores estavam congelados desde o governo da oposicionista María Eugénia Vidal, que comandou a província entre 2015 e 2019.
A medida vem um dia depois de o presidente Alberto Fernández anunciar um remanejamento de recursos da cidade de Buenos Aires para a província, o que irritou o prefeito da capital, o oposicionista Horácio Rodríguez Larreta. Fernández também criou um fundo econômico para ajudar na implementação do reajuste.
O discurso de Fernández foi feito ainda na noite de quarta, e de dentro da Quinta de Olivos. Durante o pronunciamento, o presidente pediu os policiais da província de Buenos Aires em greve “reflitam e cessem o quanto antes” o movimento, que culminou com um cerco à residência oficial.
O mandatário também disse que não irá aceitar esse tipo de manifestação e que a democracia é o “único caminho”.
“Posso entender qualquer reclamação e demanda. O que não estou disposto a aceitar são certas formas”, afirmou. “Porque essas formas não tem a ver com a forma democrática, não tem a ver com a institucionalidade, os moradores bonaerenses não merecem isso. (…) Sou sensível às reclamações da polícia. Não sou inocente, é preciso encontrar uma solução. Vamos buscar encontrar, mas não vamos aceitar que continuem com esse tipo de protestos. Peço que interrompam esta atitude”, afirmou.
O pronunciamento contou com a presença de prefeitos de oposição e situação da província bonaerense, em uma demonstração de força política.