A presidente Dilma Rousseff classificou como “terrível” a menção ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra feita pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante o processo de votação do impeachment na Câmara, durante conversa com jornalistas da imprensa internacional nesta terça-feira (19/04).
“É terrível ver alguém votando em homenagem ao maior torturador que o Brasil já conheceu”, disse Dilma aos correspondentes no Palácio do Planalto.
No domingo (17/04), ao anunciar seu voto a favor do impeachment de Dilma, Jair Bolsonaro disse que votava “em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”.
Agência Brasil
Presidente Dilma deu entrevista nesta terça-feira (19/04) a órgãos de comunicação estrangeiros
“Acho lamentável [a menção]. Eu, de fato, fui presa nos anos 70, de fato conheci bem esse senhor [Ustra] ao qual ele [Bolsonaro] se refere”, diz Dilma.
Ustra foi comandante do DOI-Codi (Destacamento de Operações Internas) de São Paulo entre 1970 a 1974. Em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura.
Dilma disse também que o processo de impeachment deu abertura a “intolerância” e “ódio”.
“Eu lastimo que esse momento no Brasil tenha dado abertura à intolerância e ao ódio. Acho gravíssima a aventura golpista, porque levou a uma situação que a gente não vivia no Brasil, de ódio, de raiva”, deaclarou.
Impeachment
Dilma afirmou que está sendo vítima de uma “flagrante injustiça” e de um “golpe”. “Estou sendo vítima de um processo simultaneamente baseado numa flagrante injustiça, numa fraude jurídica e política que é a acusação do crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e, ao mesmo tempo, de um golpe”, disse.
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Segundo ela, em todos os períodos democráticos do Brasil, todos os presidentes enfrentaram processos de impedimento no Congresso Nacional.
“O Brasil tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se nós acompanharmos a trajetória de presidentes no meu país, do regime presidencialista a partir de Getúlio Vargas, nós vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos”, disse.
A presidente declarou que a crise econômica não pode ser motivo para um processo de impeachment contra um chefe de Estado. Segundo ela, seu mandato tem o signo da “desestabilização política”.
“Essa eleição perdida por essa margem tornou essa oposição derrotada bastante reativa a essa vitória e por isso começaram um processo de desestabilização. Esse meu mandato de 15 meses tem o signo da desestabilização política”.
Crise econômica
Segundo Dilma, se causas econômicas fossem suficientes para um processo de impeachment, “não teria um único presidente nos países desenvolvidos que sobrevivesse à profunda crise econômica que se espalhou pelo mundo após o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008”.
Ela disse também que está sendo considerada a única responsável pela crise. “Como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo das commodities, pela brutal crise que afetou a partir de 2009 os países desenvolvidos, como se no resto do mundo essas dificuldades não tenham sido enfrentadas em até escala muito maior”, disse.
Gênero
Questionada se o fato de ser a primeira presidente do Brasil influenciou o processo de impeachment, Dilma afirmou que há um “forte” componente de gênero na forma como vem sendo tratada, inclusive por veículos de imprensa.
“Falam o seguinte, mulher sob tensão tem que ficar histérica, nervosa e desequilibrada. E não se conformam que eu não fique, nem nervosa, nem histérica, nem desequilibrada”, disse.
Segundo Dilma, é “lamentável” o grau de preconceito que persiste contra a mulher. “Lamento profundamente o grau de preconceito contra a mulher, de que mulher tem que ser frágil. Ora, as mulheres brasileiras não têm nada de frágeis, elas criam filhos e lutam”, declarou.