Matt Slaby/LUCEO
Fotos de imigrantes latino-americanos que tentam obter a cidadania norte-americana
Milhões de imigrantes latinos que vivem nos Estados Unidos, especialmente mulheres, podem ser submetidos a mais opressão, abusos e deportações caso o republicano Mitt Romney ganhe a Presidência. A conclusão é de Claudia Medina, diretora executiva do Enlace Comunitario, organização sem fins lucrativos com base em Albuquerque, Novo México, dedicada a apoiar mulheres latinas vítimas de violência doméstica.
A afirmação de Claudia baseia-se no que já vem acontecendo em cidades e estados com administração republicana. “Estão tentando a todo custo reverter as conquistas que a comunidade latina já obteve em termos de leis e direitos civis”, opina. Claudia se refere à aprovação no estado de um acordo federal que obriga a polícia a comunicar oficiais de imigração sobre o paradeiro de pessoas ilegais no país. Com isso, latinas vítimas de violência seguem sendo abusadas, pois não denunciam seus agressores à polícia por medo de serem deportadas.
Para a diretora do centro, medidas como essa aguçaram o clima de desconfiança que se instalou no país desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. “Todo imigrante passou a ser suspeito. Muitos grupos racistas e anti-imigrantes se aproveitaram disso, usando o medo para criar uma atmosfera hostil”, diz.
Claudia é colombiana e chegou aos EUA há mais de duas décadas para um mestrado em planejamento comunitário na Universidade do Novo México, em Albuquerque. Quando terminou o curso, foi contratada pela universidade para desenvolver um trabalho em um bairro pobre de imigrantes. “Eles mesmos me disseram que a maior necessidade era serviços em espanhol para vítimas de violência doméstica”, conta a especialista, que em seguida buscou voluntários aptos a falar sobre o tema para as pessoas do bairro.
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“Fizemos um treinamento de 13 semanas na comunidade. Por volta da terceira semana, uma das mulheres que participava do treinamento foi morta pelo marido. Isso mudou minha vida. Pensei: tenho que fazer alguma coisa”, relembra.
Ela então criou em 2000 o Enlace Comunitario. “Começamos completamente sem dinheiro. Atendemos cerca de 40 pessoas no primeiro ano. Agora recebemos mais de US$ 1,5 milhão ao ano e temos mais de 30 funcionários que ajudam as vítimas em muitas coisas. Por ano, atendemos mais de 1000 pessoas, entre as mulheres e seus filhos”, afirma.
A entidade, que recebe verbas dos governos federal, estadual e de outras organizações, atende mulheres dos municípios de Sandoval, Valencia e Bernalillo, onde está a cidade de Albuquerque. Entre as vítimas, 95% são imigrantes mexicanas; as demais 5% vêm de diversas partes da América Latina, como Peru, Colômbia, Venezuela, Honduras, Nicarágua e El Salvador.
Claudia conta que muitas dessas mulheres, já na casa dos 50, 60 anos, relatam histórias de abusos de décadas cometidos por seus maridos durante todo o casamento. Já outras aparecem para pedir ajuda na primeira agressão. “A comunidade imigrante conhece muito bem a entidade porque fazemos campanhas nos meios de comunicação, temos parceiros nas igrejas, centros comunitários, hospitais. Até os juízes sabem do nosso trabalho e nos recomendam”, explica.
Efeitos da política
O Enlace Comunitario se estende por outras frentes se unindo a iniciativas como a coalizão estatal de violência doméstica e redes nacionais que trabalham com questões de gênero. A meta da instituição, segundo a diretora, é mudar normas sociais que toleram a violência contra a mulher e o abuso dos imigrantes. “Queremos transformar essas normas tolerantes em práticas intoleráveis”.
Como regra contida em seu estatuto e que lhe garante o financiamento, o Enlace não pode envolver-se com política partidária, embora seja um campo crucial para o trabalho da instituição. “Criamos um grupo paralelo sem as restrições de financiamento que temos, por meio do qual fazemos política e mobilizamos os imigrantes”.
O trabalho desenvolvido por Claudia e os funcionários do Enlace é ainda mais atual se levada em consideração a eleição presidencial, para o senado e para a câmara dos deputados, onde políticas relacionadas à saúde da mulher e seus direitos estão sendo discutidas – muitas vezes de forma misógina. Não é incomum observar políticos dizendo expressões como “estupro de verdade” e “gravidez resultante do estupro faz parte do desejo de Deus”.
“É gravíssimo. Poucos sabem que essas eleições terão uma consequência enorme para as mulheres. Elas terão influência direta no bem-estar de mulheres vítimas de violência que, sem suporte, continuarão sendo controladas e abusadas por seus companheiros”, afirma.