As eleições legislativas estão cada vez mais próximas na Argentina – acontecem no próximo domingo (26). A disputa no distrito eleitoral mais importante do país, a província de Buenos Aires, está polarizada entre duas frentes com presença peronista. Por um lado, a maioria das pesquisas de opinião dá vantagem à Frente Justicialista para a Vitória (FJPV), liderada pelo ex-presidente Néstor Kirchner. No entanto, a coligação é seguida bem de perto pela União Pro, liderada por Francisco de Narváez, que representa uma aliança de partidos conservadores com setores do peronismo de direita (as fotos abaixo, da EFE, mostram os dois em campanha em Buenos Aires).
O que todos os analistas consultados pelo Opera Mundi concordam é que o oficialismo se transformará na primeira minoria em ambas as câmaras legislativas nacionais, tornando obrigatória a estratégia de alianças para a aprovação dos projetos apresentados pela presidente Cristina Kirchner.
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Artemio López, proprietário da consultora Equis, uma das mais importantes da Capital Federal, pesquisa periodicamente as intenções de voto nos principais distritos. Ele percebe na província de Buenos Aires uma forte polarização do eleitorado entre Kirchner e De Narváez. Não é um dado menor – ali estão em jogo 25% dos votos de todo o país.
Nesse distrito, que envolve territorialmente a capital, as preferências eleitorais, segundo López, “estão distribuídas entre os peronismos, o oficialista e o de direita representado por De Narváez, aliado de (o prefeito de Buenos Aires Mauricio) Macri, deixando bem para trás o Acordo Cívico Social (uma frente que inclui a União Cívica Radical)”.
O pesquisador afirma que o crescimento da preferência por essa expressão de direita representada por De Narváez resulta do rompimento entre o kirchnerismo e as classes média e média alta. Isso fica claro no que é conhecido como o primeiro cordão do Conurbano, uma série de municípios que fazem fronteira com a capital e costumam ser influenciados pelas preferências políticas dos portenhos. Buenos Aires é governada há um ano pelo Pro, o partido de direita liderado por Macri e que conta com 32% das intenções de voto nesse distrito para as próximas eleições.
“Não faz sentido perder o capital político nas classes média e média alta, quando estas foram os primeiros beneficiários das políticas do governo nacional” – esta é a crítica de López ao governo do casal Kirchner. O consultor diz isso porque em todos os centros urbanos, ou seja, as capitais das províncias de Córdoba, Santa Fé e Mendoza, além de Buenos Aires, o kirchnerismo recuou perigosamente nas preferências.
“Ainda assim, o governo vai manter a primeira minoria nas câmaras legislativas”, afirmou López. Segundo suas pesquisas, o kirchnerismo ficará com 35% dos votos válidos de todo o país, contra 23,5% do Acordo Cívico e Social e 15% da União-Pro (De Narváez).
Sem pesquisas nas mãos, mas com o termômetro da opinião dos passageiros que embarcam em seu táxi, Marcelo, 40 anos e 18 de profissão, garante que a União Pro vencerá na capital, porque “os portenhos não têm memória, são os que mais ganham, os que melhor vivem, mas os que se esquecem mais rápido”. O taxista afirma que “o governo de Kirchner lhes deu tudo, mas eles são os menos solidários” e aponta para duas imponentes caminhonetes de origem alemã que param no semáforo perto de seu carro, o primeiro do ponto de táxis.
“Está vendo? É esta a prova da crise que os jornais dizem que vivemos? Cada caminhonete custa 100 mil dólares. Certamente são produtores rurais, plantadores de soja, e são os que gostariam de ver Cristina morta, porque ela queria lhes cobrar mais impostos. Nem se enlouquecer voto em Macri ou no colorado De Narváez. Voto no governo”, diz ele, entrando no carro para atender um cliente.
Origem da ruptura
“A ruptura do vínculo entre a classe média e o governo kirchnerista começou quando este interveio de modo equivocado no Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censo) e iniciou-se a polêmica sobre os valores da inflação. O clímax desse divórcio ocorreu no ano passado, durante o confronto com as organizações de produtores agropecuários, que resistiram às taxas extraordinárias sobre as exportações de grãos”. A frase é de Ricardo Rouvier, sociólogo e pesquisador, que com ela busca demonstrar as causas do rompimento com este importante setor do eleitorado.
Carlos Germano, também pesquisador, concorda com os colegas e acrescenta que o governo “nunca encontrou a melhor forma de comunicar suas políticas, suas decisões, e, se as previsões eleitorais se realizarem, deverá elaborar políticas de alianças no Congresso Nacional. Se isto for bem feito, poderá melhorar o caminho rumo a 2011”.
A frase de Germano tem uma razão de ser e, em geral, todos os especialistas consultados coincidem ao afirmar que o resultado eleitoral de domingo (26) determinará o futuro do governo nacional. “Se o kirchnerismo vencer e, apesar de perder o controle do Parlamento, desenvolver uma política de alianças inteligente, poderá começar a percorrer o caminho para as eleições presidenciais de 2011 com muito mais tranquilidade que os partidos da oposição”, concluiu.
“Não me importa o que digam ou façam. Este governo está cheio de montoneros e corruptos. E a pior de todas é essa Cristina, que agora se faz de boazinha para que os incultos e ignorantes votem em seu marido”, disse María Teresa, uma cinquentona enfronhada num sobretudo de pele que mora na Recoleta, o bairro de maior poder aquisitivo de Buenos Aires.
Montoneros eram os integrantes de uma organização político-militar argentina que empreendeu uma luta armada na forma de guerrilha urbana entre 1970 e 1979 contra a ditadura militar governante e a favor do retorno ao poder do general Juan Domingo Perón.
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