O hoje presidente Jair Bolsonaro defendeu, em 1998, quando ainda era deputado federal, uma “reedição” do AI-5 (Ato Institucional número 5), apesar de, nesta quinta-feira (30/10), ter dito que quem fala no ato “está sonhando” em referência ao filho, Eduardo (PSL-SP).
Ontem, o deputado federal, filho do presidente, disse que, no caso de a “esquerda se radicalizar” – o que, para Eduardo, significa dizer que “tudo é culpa do [Jair] Bolsonaro”, poderia haver como resposta um “novo AI-5”. Com a repercussão negativa, o deputado federal voltou atrás e se desculpou pelas afirmações, apesar de ter, durante toda a tarde, insistido nas declarações.
O presidente foi questionado por jornalistas ontem sobre as declarações de Eduardo. “O AI-5 já existiu no passado, em outra Constituição, não existe mais. Esquece. Vai acabar a entrevista aqui. Cobrem deles. Quem quer que seja que fale em AI-5, está sonhando. Está sonhando! Não quero nem que dê notícia nesse sentido aí”, disse.
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No entanto, em 1998, Bolsonaro tinha uma opinião diferente. “Uma reedição do AI-5 seria até bem-vinda agora para cassar os políticos corruptos. O Brasil está mergulhado em corrupção”, afirmou, à época, em entrevista para o jornal Estado de Minas.
Em 1998, Bolsonaro disse que reedição do AI-5 seria “bem-vinda” (Reprodução/Estado de Minas)
Questionado sobre o fato de que o AI-5 fechou o Congresso do qual Bolsonaro, já há 21 anos, fazia parte, o então deputado federal respondeu “e daí?”. “O Congresso está relativamente fechado. O governo [na época, liderado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso] consegue aprovar 99% das coisas que ele quer. Só temos Legislativo para dizer que há democracia”, afirmou.
Conhecido defensor da ditadura militar, além de ser fã do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, Bolsonaro minimizou, à época, os efeitos do AI-5. “No máximo 300 pessoas desapareceram ou morreram. Eram uns vagabundos que assaltavam banco. Queriam o quê? Tratamento a pão-de-ló?”, afirmou.
O AI-5 (Ato Institucional número 5), editado em 1968, foi o que aprofundou a repressão da ditadura iniciada quatro anos antes. Direitos como habeas corpus foram suprimidos, parlamentares tiveram mandatos cassados (além de fechar o Congresso), censurou-se a imprensa e abriu-se a possibilidade de intervenção em Estados e municípios.