O novo presidente do Chile, Gabriel Boric, discursou pela primeira vez na posição de mandatário nesta sexta-feira (11/03). Diante de milhares de pessoas reunidas em frente ao Palácio La Moneda, em Santiago, Boric citou palavras de Salvador Allende, presidente deposto e assassinado pela ditadura militar em 1973, e reafirmou o compromisso de redistribuir a riqueza do país.
“Como Salvador Allende previu há quase 50 anos, estamos abrindo novamente, compatriotas, as grandes avenidas por onde passarão homens livres, homens e mulheres livres, para construir uma sociedade melhor”, declarou Boric.
Sobre a redistribuição de riqueza, ele afirmou saber que “a economia continua sofrendo e que o país precisa se reerguer, crescer e distribuir de forma justa os frutos desse crescimento”, acrescentando ainda que “precisamos redistribuir a riqueza produzida por aqueles que habitam nosso país”.
Boric também afirmou que o povo chileno é “protagonista” no processo que culminou em sua eleição à Presidência, destacando que sem as mobilizações que ocorreram no país nos últimos anos “não estaríamos aqui”.
“O povo do Chile é protagonista neste processo. Não estaríamos aqui sem suas mobilizações e quero que saibam que não viemos aqui para ocupar cargos, entreter uns aos outros e gerar distâncias inatingíveis; viemos entregar-nos de corpo e alma ao compromisso de tornar melhor a vida no nosso país”, declarou Boric.
O discurso começou às 20h na capital chilena (mesmo horário em Brasília). Na ocasião, o novo mandatário também criticou as medidas neoliberais que se consolidaram no Chile a partir da ditadura militar comandada por Augusto Pinochet, as quais continuaram sendo repercutidas posteriormente, com destaque para o governo de seu antecessor Sebastian Piñera, presidente que protagonizou momentos de “ebulição social” pelos quais passou o país nos últimos anos.
“Vi seus rostos, percorrendo nosso país, compatriotas: os dos idosos cuja pensão não é suficiente para viver, porque alguns decidiram fazer da pensão um negócio; aqueles que adoecem e suas famílias não podem pagar o tratamento; os de alunos endividados; as dos camponeses sem água por causa da seca e dos saques; as das mulheres que cuidam de seus filhos com T.E.A.[Transtorno do Espectro Autista], que encontro em todos os lugares do Chile, seus parentes acamados e seus bebês indefesos”, disse.
Ele também fez um aceno para famílias que ainda procuram os desaparecidos políticos da ditadura militar, para pessoas cujas identidades de gênero são “discriminadas”, para artistas “que não podem viver a sua obra, porque a cultura não é suficientemente valorizada no nosso país”, para os povos nativos “despojados de suas terras, mas nunca de sua história“, para a classe média endividada, para os que vivem na “pobreza esquecida”, entre outros.
Sobre a nova constituição, que está sendo construída por uma Convenção Constitucional, o mandatário reforçou a necessidade de substituir a Carta Magna atual, produto da ditadura militar, por uma que “nos une” e que seja “nascida na democracia”.
Por fim, o presidente afirmou que é preciso reparar as feridas deixadas pelos protestos de 2019 e que, por esse motivo, vai retirar as queixas aplicadas contra manifestantes detidos nos atos com base na Lei de Segurança Nacional.
Boric/Twitter
Presidente chileno destacou o protagonismo das mobilizações sociais para a conquista do governo por um programa de esquerda
A posse de Boric no Chile
Gabriel Boric tomou posse nesta sexta-feira (11/03) como presidente do Chile, recebendo o cargo do agora ex-presidente Sebastián Piñera em uma cerimônia no Congresso. Boric, de 36 anos, é o mandatário mais jovem da história do país.
Durante a cerimônia, após a transmissão da faixa presidencial, o gabinete de ministros de Boric, que tem maioria feminina, também foi empossado. “Estou profundamente orgulhoso desse gabinete, orgulhoso de que haja mais mulheres do que homens, isso graças ao movimento feminista”, disse o novo presidente.
Na saída do Congresso, o mandatário disse estar “muito emocionado e com um grande sentido de responsabilidade”. “Temos um grande dever diante do povo chileno e daremos nosso melhor para estamos à altura”, afirmou.
O mandato de Boric dura quatro anos e vai até 2026. No Chile, não há possibilidade de reeleição imediata – porém, é permitido que, após um período de quatro anos fora do governo, haja uma nova candidatura.
Ao menos 12 países enviaram delegações para acompanhar a posse: Brasil, Colômbia, Argentina, Equador, Paraguai, Uruguai, República Dominicana, Haiti, México, Espanha, Irlanda e Estados Unidos, com o total de 91 autoridades.
O vice-presidente Hamilton Mourão representa o governo brasileiro, já que o presidente Jair Bolsonaro se recusou a participar da cerimônia. A ex-presidente Dilma Rousseff foi a Santiago representando o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.
Entre os líderes presentes, estão os presidentes da Argentina, Alberto Fernández; da Bolívia, Lucho Arce; do Equador, Guillermo Lasso; do Paraguai, Mario Abdo; do Peru, Pedro Castillo; e do Uruguai, Luis Lacalle Pou. O rei Felipe 6º da Espanha também está em Santiago.