Xiomara Castro, esposa do presidente deposto, sua filha Hortencia
(direita) e o sacerdote católico Andrés Tamayo durante manifestação em Tegucigalpa; foto: Gustavo Amador/EFE
Num dia de manifestações pela volta do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e na véspera da visita deste ao Brasil, a Interpol emitiu hoje (11) ordens de prisão contra três funcionários de seu governo, segundo informou o chefe da organização no país, Rommel Martínez.
Os procurados são o ministro da Defesa, Arístides Mejía; a ministra de Finanças, Rebeca Santos; e a gerente da Empresa Nacional de Energia Elétrica (Enee), Rixi Moncada. Eles são acusados de abuso de autoridade e fraude contra a administração pública.
Segundo o Ministério Público hondurenho, Moncada, com o aval de Mejía e Santos, alugou um edifício para a Enee em El Trapiche (a cerca de 70 quilômetros de Tegucigalpa) sem abrir licitação pública.
Na semana passada, a direção central da Interpol, instalada na França, já havia emitido um alerta vermelho contra os funcionários, disse Martínez a uma rádio hondurenha.
O chefe da Interpol em Honduras explicou ainda que esse alerta é utilizado para “efetuar a localização e a captura de pessoas que têm processos penais pendentes nos países-membros” da organização.
Zelaya acusado
O próprio Manuel Zelaya tem uma ordem de prisão decretada contra si em Honduras. Ele é acusado pela Promotoria do país de fraude, falsificação de documentos e abuso de autoridade na aprovação de um decreto que, supostamente sem cumprir alguns requisitos, autorizava gastos de 27 milhões de lempiras (cerca de 1,4 milhão de dólares) em publicidade.
O governo golpista de Roberto Micheletti já afirmou que Zelaya será detido se voltar a Honduras, em virtude da ordem de prisão contra ele, em poder da polícia local.
OEA adia missão
A missão de chanceleres que seria iniciada hoje (11) com uma visita a Honduras para tentar solucionar a crise política do país só acontecerá no fim de agosto, “se o governo de Roberto Micheletti concordar”, disse o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza.
Em entrevista coletiva após uma reunião do Conselho Permanente da OEA, Insulza afirmou que gostaria de ir a Honduras “imediatamente após” a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que acontecerá entre 17 e 21 de agosto.
“Achamos que é necessário continuar trabalhando pelo Acordo de San José [proposto pela Costa Rica], que é a saída mais razoável para a crise hondurenha. Para isso, nos dispusemos a ir a Honduras. Hoje, deveríamos estar em Honduras. Continuamos dispostos a fazê-lo e comunicaremos isso ao governo de fato”, explicou o diplomata.
Inicialmente, a missão da OEA, composta pelos chanceleres de Canadá, Argentina, México, Costa Rica, Jamaica e República Dominicana, pretendia chegar hoje a Honduras. Mas, no domingo (9), o governo de Micheletti adiou a visita diante da presença de Insulza na delegação.
Micheletti acusa o secretário-geral da OEA de não ser neutro em relação ao golpe de Estado de 28 de junho, que tirou Zelaya do poder.
No entanto, no mesmo domingo, Micheletti disse que as diferenças existentes já tinham sido superadas e que Insulza poderia participar da missão como “observador”.
A esse respeito, Insulza destacou que a OEA está disposta a participar de uma série de reuniões em Tegucigalpa para discutir o Acordo de San José. Mas, ressaltou, “naturalmente é a OEA que monta sua delegação”.
O diplomata afirmou hoje que consultará os chanceleres da missão “para marcar várias datas e propô-las como alternativa” ao governo de Micheletti.
Manifestação
Partidários de Zelaya se reuniram hoje (11) na capital Tegucigalpa em protestos e comícios para exigir a restituição do presidente deposto ao poder.
A rua onde fica a sede do governo foi fechada por militares no início da manhã por causa dos protestos, informou a edição digital do jornal hondurenho La Prensa.
Os partidários de Zelaya partiram de diversos pontos do país. Duas grandes caminhadas simultâneas começaram na última quarta-feira (5) em Tegucigalpa e na cidade de San Pedro Sula, 180 quilômetros ao norte da capital.
A intenção dos manifestantes era coincidir o protesto com a chegada da missão da OEA que foi adiada.
Visita ao Brasil
Manuel Zelaya virá nesta quarta-feira (12) ao Brasil, onde se encontrará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir a situação de Honduras.
Uma fonte da chancelaria brasileira informou ao jornal La Tribuna que Zelaya será recebido em Brasília com honras de chefe de Estado, em claro repúdio ao golpe.
A chancelaria também reforçou seu “apoio às resoluções da OEA e às declarações do Mercosul, da Unasul e do Grupo do Rio, na perspectiva de um retorno pacífico e imediato do presidente Zelaya” ao poder.
A vinda de Zelaya conta com o apoio de diversas entidades – leia mais.
Carta a Obama
Um grupo de 17 parlamentares norte-americanos enviou uma carta, na semana passada, ao presidente Barack Obama com o pedido de instaurar novas medidas contra o governo golpista de Honduras.
No documento, os parlamentares mostraram preocupação com a violação aos direitos humanos em Honduras, com “uma quantidade crescente de relatos de repressão violenta de protestos antigolpe, execuções extrajudiciais remanescentes do esquadrão de morte do início dos anos 80 e detenções arbitrárias de centenas de manifestantes pacíficos”, relatava a carta.
Eles dizem que, apesar das ações importantes tomadas pelo governo norte-americano, como a suspensão da ajuda militar e a programas humanitários, “é necessário fazer mais para garantir que a democracia seja restaurada e os direitos civis dos cidadãos sejam respeitados”.
Os signatários também falaram sobre a revogação dos vistos diplomáticos de alguns funcionários-chave do governo golpista, mas afirmam que a decisão não impede que os membros viajem aos Estados Unidos para turismo.
A carta pede ainda que o presidente Obama negue a entrada nos Estados Unidos de pessoas envolvidas no golpe e imediatamente instrua o Departamento do Tesouro para congelar seus ativos no país.
NULL
NULL
NULL