Empregos que rendem salários de 20 mil dólares por mês não combinam com tempos de recessão. Ainda mais quando o trabalho consiste em cuidar da aparência, usar roupas de grife, frequentar festas e fazer companhia a mulheres – sem que, necessariamente, haja sexo pago no final.
Em uma das metrópoles mais movimentadas do mundo, Tóquio, a profissão de “host” (anfitrião, em português) aparece como um dos filões mais promissores da indústria de entretenimento japonesa. A despeito da polêmica que a atividade pode despertar, o país comporta de bares especializados a sites de encontro pelo celular, além de tevês por assinatura e revistas com conteúdo dirigido aos acompanhantes.
“Por causa da crise, a quantidade de pessoas buscando uma vaga em nossa equipe aumentou em cinco vezes”, destaca Mikami Tatsuya, gerente de uma das dezenas de casas do gênero que funcionam na região de Kabukicho, no bairro de Shinjuku.
A razão para essa procura ter crescido tanto está nos números: uma pesquisa divulgada há menos de uma semana pelo governo japonês alerta que a taxa de desemprego no país deve chegar aos 5,5% entre outubro e dezembro, o pior índice desde abril de 2003. Não é de se estranhar, portanto, que uma profissão que promete ganhos rápidos e não exige experiência profissional, como a de host, venha chamando a atenção dos japoneses.
E mesmo diante dos prognósticos para lá de desanimadores dos economistas, Tatsuya garante que o movimento da boate onde ele trabalha não foi afetado pela recessão – as pessoas continuam a freqüentá-la. Aberta desde 2006, a casa noturna costuma receber até cem clientes por semana, a maioria na faixa dos 20 anos de idade.
Mas estabelecimentos voltados às mulheres jovens representam apenas um dentre os tantos modelos que há neste ramo. De acordo com o gerente, o mercado japonês comporta desde clubes focados em atender o público feminino “maduro”, na casa dos 50 anos, a espaços especializados em recepcionar mulheres casadas. A mesma diversidade vale para o sexo oposto, quando a função se inverte e são elas que atuam do outro lado, isto é, trabalham na condição de acompanhantes.
Popularização recente
Boates que “vendem” companhia masculina existem há pelo menos quatro décadas em Tóquio. No entanto, com o aumento da concorrência, a solução foi popularizar o serviço, antes desfrutado somente pelas mais ricas, para se chegar à classe média e ampliar o leque de clientes. Hoje, entrar em um desses locais custa cerca de 30 dólares, com direito ao consumo de bebida alcoólica – preço 500% inferior ao que era praticado nos anos 1980 e 1990. “Só que esse trabalho ainda é visto como algo sujo, porque, para os japoneses, estamos abaixo da hierarquia”, diz Mikami Tatsuya.
Yuuto, 23, e Keita, 21: expedientes noturnos em busca de salários que podem chegar a 20 mil dólares por mês
Boa parte desse preconceito confunde-se com a própria história do Kabukicho, região que, além de ser conhecida como a “zona da luz vermelha” da cidade, coleciona outras credenciais pouco invejáveis: a principal delas é ser considerada o reduto da yakuza, a máfia japonesa. De acordo com um levantamento realizado há cinco anos pelo Governo Metropolitano de Tóquio, cerca de mil membros do crime organizado atuavam na área, controlando mais de 120 empresas no bairro.
Trabalho concorrido
Embora a profissão de host venha ganhando espaço no Japão, fazer parte desse grupo não é fácil. Para se tornar o preferido das frequentadoras e ganhar um salário compatível com o posto, os acompanhantes se entregam a uma rotina que inclui idas frequentes ao cabeleireiro, agendamento de encontros por telefone e horas seguidas em frente ao computador, seja respondendo a emails ou escrevendo em blogs. Isso, claro, além do expediente noturno. “A competição entre eles é grande, todos querem ser o ‘número um’ da casa”, afirma o gerente, que emprega cerca de 50 pessoas.
Sites que oferecem programas de tevê pela internet, serviços de bate-papo on-line, descontos em clubes noturnos e acesso aos perfis dos rapazes – com informações como idade, altura e até tipo sanguíneo – também estouraram na rede nos últimos anos.
Uma das páginas mais populares no Japão é o Host-TV, que garante ainda o download de vídeos em alta resolução pelo celular, graças a uma parceria com duas das maiores operadoras de telefonia móvel do país. Mas os preços cobrados pelo serviço ainda assustam: baixar um arquivo de 10 megabytes, por exemplo, pode custar mais de 150 dólares.
Além dessas empresas, outros segmentos também têm aproveitado o boom dos acompanhantes, como a indústria da moda e o mercado editorial japonês. Nas lojas de conveniência de Tóquio, é cada dia maior o número de revistas que ensinam de últimas tendências em roupas a dicas de beleza para eles, sem falar das propagandas de estimulantes sexuais e clubes noturnos. No entanto, nenhum desses serviços faz apologia à prostituição, atividade proibida no país.
*Texto e foto
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