A imprensa francesa está de olho na visita oficial do presidente Emmanuel Macron aos Estados Unidos. Até a próxima sexta-feira (02/12), o chefe de Estado francês tentará promover uma reconciliação com o presidente norte-americano, Joe Biden, após uma grave crise diplomática entre os dois aliados em 2021.
“Nos Estados Unidos, Emmanuel Macron é um aliado não-alinhado”, diz o site do jornal Le Monde na manhã desta quarta-feira (30/11). A enviada especial do veículo a Washington, Claire Gatinois, destaca a necessidade de a França virar a página, após a anulação de um contrato de venda de submarinos franceses à Austrália.
Paris perdeu dezenas de bilhões de euros nessa manobra nada diplomática, depois que os Estados Unidos e o Reino Unido fecharam na surdina um contrato de fornecimento de equipamentos mais avançados com os australianos.
Le Monde informa que Macron jantará com Biden na noite desta quarta-feira. Será “um momento de intimidade”, segundo comunicado da Presidência francesa. Na avaliação do jornal, a ocasião também servirá para tratar de outros assuntos delicados.
O mesmo tom é adotado pelo jornal Le Figaro, que afirma que a França é atualmente o principal parceiro dos Estados Unidos na Europa, já que Olaf Scholz ainda é muito novo no posto de chanceler alemão e Rishi Sunak lidera um Reino Unido que não faz mais parte da União Europeia.
No entanto, para o diário de linha editorial conservadora, a viagem de Macron em Washington não será fácil: “há quatro anos, ele tentou, jogando a carta da amizade com Trump, salvar o acordo nuclear iraniano – em vão”, diz Le Figaro. “Hoje, sua meta se concentra no impacto desequilibrado da guerra na Ucrânia dos dois lados do Atlântico”, analisa o veículo.
Reprodução/ Élysée – Présidence de la République française
Macron fica até sexta-feira (02/12) nos Estados Unidos após crise diplomática entre os dois aliados em 2021
A reportagem explica que enquanto a Europa arca com todo o peso das consequências energéticas e econômicas do conflito – escassez de petróleo e gás, inflação e ameaça de recessão –, os Estados Unidos tiram proveito da guerra de duas maneiras: cobram dos europeus um preço até quatro vezes mais alto pelas exportações de gás de xisto norte-americano, em comparação com o preço praticado no mercado interno, e vendem carregamentos de armas para reabastecer os arsenais esgotados por doações à Ucrânia.
Protecionismo americano
Já o jornal Libération destaca que o maior ponto de atrito entre os dois líderes deverá ser a dimensão protecionista do Ato para Redução da Inflação, adotado em agosto pelo Congresso norte-americano. “Este plano de ambição histórica prevê investimentos consideráveis na transição energética, em particular por meio de centenas de bilhões de dólares em subsídios destinados à produção nos Estados Unidos de veículos elétricos, baterias e energias renováveis, às custas das indústrias europeias”, ressalta a matéria.
Um assessor da Presidência francesa afirmou ao jornal que “será necessário sincronizar” as agendas dos dois líderes, na esperança de uma flexibilização do protecionismo da parte de Biden. No entanto, Macron está consciente de que a lei aprovada pelo Congresso norte-americano e assinada pelo chefe da Casa Branca não vai mudará nem uma vírgula, conclui o Libération.