A ajuda financeira que os países ricos devem conceder para permitir às nações em desenvolvimento uma luta contra o aquecimento global é o grande problema da negociação de Copenhague, explicou à AFP o embaixador brasileiro para o clima, Sérgio Serra.
“O principal obstáculo nesta negociação não é o objetivo de redução de gases do efeito estufa, e sim o financiamento, concretamente porque os países desenvolvidos só falam de fundos a curto prazo, até 2012”, afirmou.
Valter Campanato/ABr (24/11/2009)
Sérgio Serra: crise econômica e ambiental têm tratamento diferente no contexto atual
Os países em desenvolvimento avaliam que precisariam anualmente de 150 bilhões de dólares para adaptar-se aos efeitos das mudanças climáticas e para contribuir para o combate das mesmas.
O novo acordo mundial que está sendo negociado em Copenhague, e que deveria entrar em vigor no início de 2013 – após o vencimento dos compromissos do Protocolo de Quioto -, deve estabelecer a origem e a gestão dos recursos. No entanto, o único consenso alcançado até o momento diz respeito à necessidade de uma ajuda urgente, nos próximos três anos, que ficaria em 10 bilhões anuais.
Para Serra, esta falta de compromisso econômico por parte dos países ricos é consequência da crise financeira mundial. “Mas ao mesmo tempo, é curioso que tenham gasto bilhões de dólares para salvar as instituições financeiras e que a crise climática, que tem efeito mundial, não mereça a mesma atenção”, lamenta.
Papel do Brasil
Graças às boas relações com os países em desenvolvimento e com as nações ricas, o Brasil “quer jogar a carta do diálogo” na negociação de Copenhague, “ser uma ponte entre os grupos negociadores, mas para isto é necessário que exista flexibilidade das duas partes”, nas palavras do embaixador.
“O Brasil está tentando evitar que a comunidade internacional abandone o Protocolo, porque é um documento que consideramos muito valioso e jogá-lo assim no lixo seria andar para trás”, explica.
Único instrumento internacional existente para lutar contra o aquecimento global, Quioto impõe obrigações às nações desenvolvidas e protege os países em desenvolvimento, além de incluir importantes questões técnicas como a regulamentação dos mercados de carbono ou os mecanismos de desenvolvimento limpo.
O grande defeito de Quioto é de não incluir os Estados Unidos, que nunca ratificaram o texto. Washington o considera injusto por não impor obrigações às grandes potências em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil.
“Isto está fazendo com que vários países desenvolvidos queiram descartar o Protocolo, como Japão, Canadá e Rússia, e em certa medida também a União Europeia (UE), porque gostaria de estar ao lado dos Estados Unidos”, explica Serra.
“Em Copenhague, o Brasil está tentado evitar isto. O espírito do Brasil é construtivo e não temos interesse nenhum em bloquear as negociações”.
“O risco, se perdermos o Protocolo de Quito, é o de ter um regime muito mais fraco, no qual cada país desenvolvido faça o que quiser, sem que seja possível impor o cumprimento de suas metas nem compará-las com os outros”, afirma o diplomata brasileiro.
Isto é justamente, segundo Serra, o que propõe a lei sobre mudanças climáticas atualmente em debate no Congresso dos EUA. “As metas propostas pelos EUA não são comparáveis (com as de outros países desenvolvidos) porque não levam 1990 como ano de referência (e sim 2005) e excluem as emissões provocadas pela agricultura”, destaca.
Serra, no entanto, se declara decidido a manter o otimismo até o fim. “Neste tipo de negociações, muitas questões são resolvidas no último minuto e a pressão da opinião pública mundial pode funcionar com a presença em Copenhague dos líderes mundiais”.
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