Em mensagem divulgada nesta terça-feira (18/10) para tentar se retratar por ter insinuado que crianças venezuelanas seriam vítimas de prostituição infantil, o presidente Jair Bolsonaro apareceu ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da advogada venezuelana Maria Teresa Belandria, que é apresentada como “embaixadora da Venezuela”.
Além disso, de acordo com matérias publicadas pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão, Belandria teria sido a responsável por convencer as meninas venezuelanas a se reunirem com a primeira-dama e a ex-ministra Damares Alves na tarde desta segunda-feira (17/10).
Entretanto, Belandria não possui carreira diplomática e nunca foi nomeada pelo governo da Venezuela como representante do país no Brasil.
Na verdade, a advogada é considerada por Brasília como “embaixadora” pois ela foi indicada pelo ex-deputado venezuelano Juan Guaidó, opositor de direita que tentou construir um “governo paralelo” reconhecido por Bolsonaro.
Formada em Direito pela Universidade Santa María de Caracas, Belandria nunca ocupou um cargo diplomático ou sequer um cargo público na Venezuela. Após realizar pós-graduação na área do Direito Internacional Econômico e Integração, a advogada foi estudar no Centro de Estudos Hemisféricos de Defesa William J. Perry, instituição localizada nos EUA e mantida pelo Pentágono.
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Maria Teresa Belandria, suposta embaixadora da Venezuela mencionada por Bolsonaro, e vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão
O centro é parte da Universidade de Defesa Nacional, que pertence ao Departamento de Defesa dos EUA, e se dedica a formar civis e militares para “fortalecer o Estado de Direito e a democracia e promover o entendimento das políticas dos Estados Unidos no Hemisfério Ocidental”.
Segundo a biografia publicada no site da “embaixada” fictícia que Belandria comanda, a advogada “possui estudos em Segurança Cibernética, Estratégia e Política de Defesa, Relações Civis Militares e Liderança Democrática, Perspectivas de Segurança e Defesa, Administração e Planejamento de Recursos para Defesa”.
A advogada também já trabalhou para a Fedecámaras, a maior entidade patronal da Venezuela. Além disso, foi uma das fundadoras do partido de direita Vente Venezuela, cuja principal liderança é a ex-deputada Maria Corina Machado.
Até 2019, Belandria era assessora de Corina Machado. Histórica opositora do chavismo na Venezuela, a ex-deputada é cotada como pré-candidata à Presidência para as eleições venezuelanas de 2024. Em 2006, uma ONG que Machado comandava chegou a ser indiciada pelo Ministério Público venezuelano por ter recebido 30 mil dólares de órgãos estatais estadunidenses.