Reeleito para seu segundo mandato há três semanas, o presidente francês Emmanuel Macron (LREM) anunciou nesta segunda-feira (16/05) a troca de seu chefe de governo. Jean Castex deixa o posto de primeiro-ministro e será substituído por Élisabeth Borne, até então ministra do Trabalho. Borne será a primeira mulher em três décadas a liderar o governo francês.
Na tarde desta segunda, Jean Castex foi até o Palácio do Eliseu entregar sua carta de demissão ao presidente. O ato simbólico era apenas protocolar, desde o dia 24 de abril, após o segundo turno, a França aguardava o nome do novo primeiro-ministro.
Reeleito com apoio crucial do eleitorado de esquerda, o presidente de centro-direita tinha um quebra-cabeça a resolver: encontrar um nome que mostrasse compromisso com a ecologia e com as questões sociais sem desagradar seus apoiadores da direita.
Ao longo de duas semanas, a única informação que parecia certa era a escolha de uma mulher, uma espécie de sinal para reforçar a bandeira macronista da luta pela igualdade de gêneros. Borne será a primeira mulher a assumir o cargo em 30 anos.
Na lista de possibilidades desde o início, a ministra do Trabalho parecia se encaixar em muitas das características desejadas. Funcionária pública de carreira, Borne foi por muitos anos próxima dos socialistas, sendo conselheira dos ministros Lionel Jospel e Jack Lang, e chefe de gabinete de Ségolène Royal no Ministério da Ecologia.
Depois disso, aderiu ao partido de Macron (República em Marcha) e assumiu o ministério dos Transportes. Ao longo dos cinco anos do primeiro mandato do presidente, ela passou pelo Ministério da Transição ecológica e solidária e, em 2020, foi nomeada à chefia do ministério do Trabalho, do Emprego e da Inserção, durante o governo de Castex.
Borne é percebida como um nome de pouco brilho político, que não deve fazer sombra a Macron, ao mesmo tempo que é conhecida por seu rigor e sua lealdade.
Filha de um combatente da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, Borne perdeu o pai muito jovem, mas conseguiu se formar em engenharia pela tradicional Escola Politécnica francesa com uma bolsa do governo.
Twitter/Élisabeth BORNE
Funcionária pública de carreira, Borne foi por muitos anos próxima dos socialistas
Aos 61 anos, a antiga “pupila da nação” assume agora a liderança do governo francês e pode se tornar a primeira mulher a ficar no posto por um ano.
Borne deverá escolher seu novo governo nos próximos dias, momento em que a França se prepara para eleger uma nova Assembleia Legislativa. Entre seus desafios, estão a defesa de uma reforma da previdência e um novo plano de transição ecológica para o país, que enfrenta a crise de gás devido à guerra na Ucrânia.
Edith Cresson, a única a ter ocupado o cargo (1991-1992) durante a presidência do socialista François Mitterrand, deseja a ela “muita coragem” para enfrentar uma classe política “machista”.
Merci, “senhor desconfinamento”
Chefe do governo francês desde julho de 2020, Jean Castex esteve à frente da França durante 22 meses de emergência sanitária e ficou conhecido como “Senhor Desconfinamento”, por ter sido o responsável por implementar a saída da França de sua fase com maiores restrições sanitárias.
Em uma mensagem de agradecimento após a demissão do governo Castex, Macron reconheceu seu governo “apaixonado e comprometido a serviço da França. Sejamos orgulhosos do trabalho realizado e dos realizados obtidos juntos”, afirmou o líder do Eliseu.
Merci à @JeanCastex, à son gouvernement et à toute son équipe. Durant près de deux ans, il a agi avec passion et engagement au service de la France. Soyons fiers du travail accompli et des résultats obtenus ensemble. pic.twitter.com/AmJ2WkCety
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) May 16, 2022
Castex, que deixou a prefeitura de uma pequena cidade no sudeste do país para assumir a chefia do governo Macron, anunciou que vai abandonar a política nacional. Seus planos são de voltar para sua casa nos Pirineus e renovar a pintura de suas persianas, disse em uma longa entrevista ao jornal Le Parisien.
Estas confidências resumem bem a imagem deixada pelo antigo primeiro-ministro, a de um homem simpático e próximo da vida cotidiana dos franceses.
A decisão contraria a vontade do presidente, que pensava em colocá-lo em um ministério de caráter social, como a Educação, onde Macron e, agora, Borne terão um problema a resolver.