Com a primeira visita oficial da chefe de governo italiana, Giorgia Meloni, à França, o avanço da direita na Europa volta a ser analisado pelos principais jornais franceses desta quarta-feira (21/06).
O diário Le Monde chama a atenção para a recente estratégia do governo italiano de substituir a direção de diversas instituições culturais do país, acusadas de estarem muito “orientadas à esquerda”.
O artigo afirma que, “construída à margem da Itália republicana”, a gestão de Meloni, conservadora e herdeira da tradição política pós-fascista, parece querer avançar sobre um dos últimos redutos de resistência do país: a cultura.
A publicação reproduz uma declaração da primeira-ministra em que ela afirma “querer liberar a cultura italiana de um sistema em que não se podia trabalhar a não ser se declarando de um certo campo político”.
Ela sustenta a urgência de uma nova classe de dirigentes, pela “meritocracia e pluralidade” face a uma elite de esquerda “intolerante”, e isso em nome de uma “hegemonia cultural”, considerada não apenas pelas famílias radicais de direita italianas, mas também francesas, um imperativo inseparável da conquista do poder.
“Direitização”
Já o Le Figaro traz uma entrevista exclusiva com o cientista político Jérôme Jaffré, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, em que ele alerta para uma “acelerada tendência à direita do debate público”.
Twitter/Emmanuel Macron
Meloni e o presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, na França
Para o especialista, esta “direitização” do debate pode ser observada na reforma da previdência, na escalada da violência social, nas políticas para a imigração, e na presença cada vez mais constante de palavras como “soberania”, “autoridade” e “controle” no debate político.
O jornal também trata a primeira visita de Giorgia Meloni a Paris desde que ela chegou ao poder, sublinhando a intenção da presidente do Conselho italiano de impor sua postura conservadora e anti-imigração no coração da União Europeia.
O encontro entre Meloni e o presidente francês, Emmanuel Macron, na terça-feira (20/06), no Palácio do Eliseu, também é analisado pelo Le Parisien, que aponta para uma aproximação entre os dois governos que parecem ter decidido que seria “melhor trabalharem juntos”, principalmente sobre o tema da imigração, depois de sete meses de crise e fortes tensões.
Diplomacia
Para o jornal Les Echos, a reaproximação entre os países chega de forma tardia, quando Meloni já havia encontrado os líderes britânico, alemão, espanhol, sueco, austríaco e até tcheco. Muito mais do que agendas atribuladas, uma sequência de desentendimentos graves atrapalhou até então o diálogo entre Roma e Paris.
A imprensa francesa se pergunta agora se o clima de calmaria do encontro entre os dois chefes de Estado terá sido apenas diplomático ou se irá realmente determinar um novo tom nas relações entre os dois países.