O Grupo de Trabalho Interinstitucional DOI-Codi, conjunto de entidades que trabalham pela preservação e ressignificação do local onde funcionava o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, manifestou nesta sexta-feira (13/12) preocupação com ossadas humanas encontradas por construtoras em um terreno próximo às dependência do centro policial da ditadura militar brasileira (1964-1985).
Em reportagem publicada nesta quinta-feira (12/12), a Ponte Jornalismo divulgou que pelo menos seis ossadas foram descobertas por funcionário de uma construtora em um terreno na Rua Abílio Soares, nº 1149, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, a apenas 150 metros da antiga sede do DOI-Codi, onde hoje funciona o 36º DP Paraíso.
Em nota, as entidades que formam o Grupo de Trabalho afirmaram que “a proximidade geográfica entre o local dos fatos e das dependências do DOI-Codi (Rua Tutoia, 921) nos coloca em estado de atenção em virtude da possibilidade de haver vinculação entre esses corpos e as recorrentes e sistemáticas violações de Direitos perpetradas por aquele órgão entre 1969 e 1983”.
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“Lá, ao menos 5 mil pessoas foram interrogadas, muitas das quais permaneceram detidas ilegalmente, sofrendo torturas, levando 52 pessoas à morte”, informaram as entidades.
Segundo a Ponte Jornalismo, a Polícia Civil havia recebido uma denúncia anônima e a apuração da denúncia começara dia 30 de outubro. O relatório da polícia, citado pelo site, indica que a investigação das autoridades busca saber se o local realmente era um cemitério clandestino para desova de corpos “datado do tempo da escravidão, onde pobres, escravos e negros forros eram sepultados”.
Reprodução
Antiga sede do DOI-Codi, onde hoje funciona o 36º DP Paraíso
Sobre a investigação, as entidades afirmaram que acompanham ” atentamente as investigações em curso pela Polícia Civil do Estado de São Paulo e reforça a necessidade de converter o espaço em lugar de memória e consciência sobre os crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos de 1964 e 1985″.
Leia a nota na íntegra:
Nota do GT Interinstitucional Doi-Codi
O GT Interinstitucional Doi-Codi recebeu com preocupação a informação veiculada na noite de 12/12/2019 pela Ponte Jornalismo de que as ossadas de ao menos 6 pessoas foram encontradas em terreno localizado à Rua Abílio Soares, 1149, Vila Mariana.
A proximidade geográfica entre o local dos fatos e das dependências do Doi-Codi (Rua Tutoia, 921) nos coloca em estado de atenção em virtude da possibilidade de haver vinculação entre esses corpos e as recorrentes e sistemáticas violações de Direitos perpetradas por aquele órgão entre 1969 e 1983. Lá, ao menos 5 mil pessoas foram interrogadas, muitas das quais permaneceram detidas ilegalmente, sofrendo torturas, levando 52 pessoas à morte.
Este GT acompanha atentamente as investigações em curso pela Polícia Civil do Estado de São Paulo e reforça a necessidade de converter o espaço em lugar de memória e consciência sobre os crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos de 1964 e 1985.
São Paulo, 13 de dezembro de 2019
Ms. Deborah Neves (Coordenadora do GT), Núcleo Memória, Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, Instituto Vladimir Herzog, Centro de Arqueologia e Antropologia Forense CAAF/Unifesp, LEA/UNIFESP, “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Arqueologia e Antropologia Forense”/Unifesp, Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), Dr. Andrés Zarankin (Dep. de Antropologia e Arqueologia – UFMG), Dra. Silvana Rubino (Dep. História, IFCH/Unicamp)