Marina Terra/Opera Mundi
Partindo pela rodovia que sai do aeroporto internacional de Maiquetía, a vida parece seguir igual na Venezuela. As longas filas de carros e os gigantes outdoors com mensagens das conquistas do governo do presidente Hugo Chávez, morto nesta terça-feira (05/03) aos 58 anos, mais uma vez dão as boas-vindas. Mas, em meio ao característico trânsito caraquenho, que piora conforme se aproxima da capital venezuelana, surge em uma moto um casal vestido da cabeça aos pés com bandeiras do país e camisetas com os dizeres “uh! Ah! Chávez não se vá”. Com os cabelos ao vento, agarrados um ao outro, eles choram.
“Devem estar seguindo para los Próceres”, comenta Fernando, morador de Caracas e motorista há mais de 30 anos. “O país inteiro está abalado pela morte do presidente”, continua, enquanto aponta para as montanhas que margeiam a rodovia, forradas de casas humildes, em um cenário que lembra as favelas cariocas. “Esses sim vão sentir muito a falta dele”, afirma.
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De fato, a comoção em torno do falecimento do líder venezuelano, após quase três meses depois de se submeter a uma nova cirurgia contra um câncer – diagnosticado pela primeira vez em 2011 –, é avassaladora. Já no centro de Caracas, milhares de pessoas com bandeiras vermelhas e nas cores da Venezuela marcharam em direção ao local onde será realizado o velório do presidente. Todos querem fazer uma última homenagem ao “comandante”.
Efe
Simpatizante do presidente Hugo Chávez comparece a cortejo fúnebre até o Paseo de Los Próceres, em Caracas
O corpo de Chávez saiu pela manhã em cortejo fúnebre do Hospital Militar e recorreu ao longo de sete horas o percurso até a Academia Militar. No caminho, choro, desespero e gritos de “te amo, Chávez!”. O carro levando o caixão do chefe de Estado chegou a seu destino e encheu as ruas de Caracas de milhares de simpatizantes vestidos com o tradicional vermelho do chavismo e bandeiras da Venezuela.
O vice-presidente Nicolás Maduro, vestido com um casaco esportivo com as cores venezuelanas, avançou na frente do carro, acompanhado pelo presidente boliviano, Evo Morales. Já no Paseo de los Próceres, entre duas imensas colunas de pedras, serão realizadas as honras oficiais. Para acomodar autoridades do governo e a família de Chávez, duas tendas foram colocadas em ambos os lados.
Chefes de Estado, líder políticos e representantes de diversos países devem comparecer à cerimônia. Pelo menos sete países latino-americanos decretaram luto nacional, entre eles Brasil, Argentina, Chile e Cuba. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e seu colega uruguaio, José Mujica, foram os primeiros a chegar, às 5h (6h30 de Brasília), um pouco antes do boliviano Evo Morales. A presidente brasileira, Dilma Rousseff, deve chegar na manhã de quinta.
Eleições
O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Elías Jaua, disse que o país vai convocar eleições dentro de 30 dias. O vice-presidente, Nicolás Maduro, vai permanecer interinamente no poder, segundo ele.
“Agora se produziu uma falta absoluta [do presidente], assume o vice-presidente o poder como presidente, e eleições vão ser convocadas nos próximos 30 dias”, disse Jaua na TV Telesur. “Essa é a ordem que nos deu o comandante presidente Hugo Chávez.”
Oposição
Em meio à comoção vista em grande parte de Caracas, no bairros mais abastados da capital, conhecidos por reunir maioria opositora, o clima é de normalidade, calma e até júbilo. Perguntando sobre o impacto da morte de Chávez para o país, o comerciante Jorge Salas, de 45 anos, respondeu: “foi a melhor coisa que poderia ter acontecido ao país”. Para ele, que vive em Altamira, os partidos opositores “precisam aproveitar esse vazio para recuperar o governo do país.”
O discurso contrasta com o da oposição política a Chávez, que se mostrou mais cautelosa com as declarações. Na terça-feira, Henrique Capriles, um dos principais líderes oposicionistas e possível candidato à Presidência, leu um comunicado de condolências e pediu o momento seja de “paz e não da diferença”.
Em 30 dias uma nova eleição será realizada. A expectativa é a de que o governador de Miranda, do partido Primeiro Justiça, dispute as urnas com o vice-presidente Nicolás Maduro. Pesquisas apontam que o vice venceria com mais de 50% dos votos. Se antes da morte do presidente o cenário era favorável para o chavismo, análises dentro e fora da Venezuela indicam que uma vitória da oposição é quase impossível. Capriles, ou qualquer outro nome escolhido pela MUD (Mesa de Unidade Democrática), terão de enfrentar não Chávez, mas um mito que se desenha pelas ruas forradas de vermelho e de lágrimas.
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