A relação entre a Sérvia e a região rebelde de Kosovo voltou a registrar um importante aumento de tensão e a possibilidade de um novo conflito armado, em um Leste Europeu já sacudido pelos 10 meses de guerra entre Rússia e Ucrânia.
Os novos incidentes tiveram início a partir do último sábado (10/12), quando autoridades policiais de Kosovo prenderam o policial sérvio Dejan Pantic, acusado de um suposto ataque terrorista no norte da região rebelde.
A partir de então, grupos étnicos sérvios que vivem em Kosovo passaram a realizar manifestações e barricadas em diversas pequenas cidades do território, as quais foram reprimidas pelas forças de segurança kosovares. Segundo o canal russo RT, algumas localidades chegaram a ter conflitos armados, como nas cidades de Zvecan e Zubin Poyok, de onde correspondentes reportaram tiroteios e explosões neste domingo (11/12).
Diante desse cenário, o presidente da Sérvia, Alexandar Vucic, e a primeira-ministra do país, Ana Brnabic, afirmaram que os grupos étnicos sérvios em Kosovo estão sendo atacados e reagindo para se proteger.
“Não haverá rendição, esta é a decisão da Sérvia e minha mensagem ao nosso povo que vive em Kosovo, que mais uma vez é forçado a defender suas casas com barricadas. Continuamos a luta com todos os meios legais pela paz na Sérvia e em Kosovo, por uma vida melhor e pelo futuro de nossos filhos”, disse Vucic.
As autoridades sérvias reclamaram que a polícia de Kosovo vem atuando desde a semana passada de forma a ameaçar pessoas e comunidades sérvias nesse território, utilizando veículos blindados e armamento pesado.
O primeiro-ministro de Kosovo, Albin Kurti, teve uma reunião no domingo com o Conselho de Segurança Nacional e informou aos representantes de Itália, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França que suas forças vão tomar medidas para eliminar as barricadas se os sérvios não o fizerem.
Comunidades sérvias do Norte de Kosovo, reunidas durante o último fim de semana
A resposta às ameaças de Kurti foram dadas pela premiê sérvia, quem afirmou que o colega kosovar está seguindo orientações da União Europeia e dos EUA, “e se vê que eles realmente representam valores que não são os da paz e da estabilidade”.
“Estes são os valores de Kurti: o Acordo de Bruxelas não existe; o Acordo de Washington não é válido; a Resolução 1244 da Organização das Nações Unidas (ONU) são uma ameaça militar a Kosovo; direitos humanos e estado de direito é proibir os sérvios que vivem em Kosovo de votar, confiscar suas propriedades e ameaçá-los todos os dias com força brutal ”, escreveu a primeira-ministra em sua conta de Twitter.
Nessa linha, Brnabic indicou que os parceiros mais próximos de Kurti, como a União Europeia ou os EUA, “veem o que ele realmente representa e quais são os seus valores, que não são paz nem estabilidade”.
Por sua parte, o chanceler da União Europeia (UE), Josep Borrell, deu declarações sobre o tema nesta segunda-feira (12/12), apoiado na versão de Kosovo no conflito.
“A UE não tolerará ataques contra Kosovo, nem atos violentos e criminosos no norte do país. Os grupos sérvios devem remover imediatamente suas barricadas. A calma deve ser restabelecida. Kosovo deve continuar a coordenar seus esforços junto com suas próprias autoridades e as da missão pacificadora em Kosovo (KFOR)”, declarou o diplomata.
Vale lembrar que a KFOR é uma força que inclui militares norte-americanos e de diversos países da UE, e que é dirigida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Também é importante recordar que a Resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em junho de 1999, estabeleceu o envio da missão internacional de manutenção da paz, e que Belgrado também poderia enviar um contingente de segurança a Kosovo após a desmilitarização do chamado Exército de Libertação do Kosovo e a saída de forças sérvias.
Kosovo é uma província da Sérvia que se declarou independente em 2008, iniciativa que foi reconhecida pelos Estados Unidos e a maioria dos países da Europa, porém ignorada por muitos outros países, incluindo China e Rússia, dois aliados de Belgrado.