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O escritor moçambicano Mia Couto (foto), que recebeu o Prêmio Camões de literatura na noite desta segunda-feira (10/06), no Palácio da Queluz, em Lisboa, decidiu não dedicar, mas partilhá-lo com todo o povo de seu país.
“Partilho este momento com a gente anônima de Moçambique, essa multidão que fabrica a nação viva e sonhadora que venho celebrando desde há mais de 30 anos”, disse Mia, após ter recebido o prêmio das mãos dos presidentes de Portugal, Cavaco Silva, e do Brasil, Dilma Rousseff, numa cerimônia realizada no Palácio de Queluz.
“Pensamos que um prêmio serve para celebrar o que já fizemos. Prefiro pensar que se trata de celebrar o que há ainda por fazer, e quanto nos falta realizar a todos nós para que seja mais viva e mais verdadeira esta família que celebramos na nossa língua comum”, afirmou Mia.
O escritor também compartilhou a premiação com familiares e amigos, com o seu editor, Zeferino Coelho, e em especial com o seu pai, Fernando Couto, que morreu este ano.
“Foi ele que me ensinou, não apenas a escrever poemas, mas a viver em poesia. Este prêmio pertence a esse sentimento do mundo que ele me legou como uma sombra, que resta mesmo depois de tombar a última árvore”, disse.
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O presidente de Portugal, Cavaco Silva, considerou que a atribuição do Prêmio Camões a Mia Couto foi uma decisão “justa e clarividente” e elogiou a “imensa originalidade” do seu universo ficcional.
Na cerimônia, o chefe de Estado português agradeceu Dilma por visitar o país e participar da cerimônia exatamente no dia 10 de junho. “O seu gesto, senhora presidente, tem um significado muito especial, que quero sublinhar, porque ocorre no Dia de Portugal, que é também o Dia de Camões, a data em que celebramos o universalismo da Língua Portuguesa. Na verdade, é um traço de união que celebramos neste Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas”.
“Felicito, com afetuosa admiração, o escritor Mia Couto, bem como o júri que decidiu atribuir-lhe este galardão. Foi uma decisão justa e clarividente”, acrescentou.
Cavaco Silva referiu-se a Mia Couto como “um dos mais reconhecidos e versáteis autores da lusofonia contemporânea”, que “construiu, ao longo de uma sólida carreira, um universo ficcional próprio, de imensa originalidade, que se singulariza por confrontar as suas personagens – e também os seus leitores – com as grandes interrogações e os grandes dilemas da existência humana”.
O presidente português disse que “Mia Couto reconstrói o tempo e o modo moçambicanos, as tradições e a oralidade da sua terra natal, aquela que foi terra sonâmbula e hoje constitui um dos países mais promissores do continente africano”.
Já Dilma disse que a obra de Mia Couto permite “descobrir a África”, viajar pelo interior de Moçambique, viver o “burburinho de Maputo” e emocionar-se com “histórias singulares, mas universais”.