Clube de cidade menor, com passagem pela segunda divisão, torcida modesta e estádio acanhado. O Estudiantes de La Plata, novo campeão da Taça Libertadores da América, tinha tudo para ser apenas mais um entre os que se digladiam no futebol argentino para atrapalhar os planos dos cinco grandes de Buenos Aires: Boca Juniors, River Plate, Independiente, Racing e San Lorenzo. Mas superou essas grandes barreiras, com destaque para a conquista do principal torneio do continente na semana passada, graças a dois jogadores, pai e filho, de sobrenome Verón.
Juan Sebastián Verón comemora o título da Libertadores ao lado de seu pai, em La Plata – Javier Brusco/EFE (16/07/2009)
O mais novo, o meia Juan Sebastián Verón, 34 anos, voltou a ganhar destaque mundial depois de passar por vários grandes clubes europeus e pela seleção argentina, na vitória do Estudiantes por 2 x 1 sobre o Cruzeiro, em Belo Horizonte. Sob sua regência, os “Pinchas” ganharam o tetracampeonato do torneio continental. Protagonista do Mineirazzo e capitão do time, ele despontou em 1993 no clube de La Plata, cidade onde nasceu. Ajudou a equipe a sair da segunda divisão e dez anos depois de trocá-la pelo Boca Juniors, retornou em 2006 para encerrar a carreira e conquistar títulos.
Trinta anos antes, seu pai, o meia-atacante Juan Ramón Verón, hoje com 65 anos, dava um toque de classe à violenta equipe que saiu do anonimato para conquistar o tricampeonato da Taça Libertadores. No primeiro título da série, em 1968, marcou os gols na final contra o Palmeiras de Ademir da Guia e fez de cabeça o tento do campeonato mundial contra o Manchester United do mítico ponta galês George Best, um dos maiores artilheiros da história do clube inglês.
“Sem os Verón o Estudiantes só conseguiu dois títulos argentinos na década de 1980, muito por causa do Carlos Bilardo, que viria a ser o técnico da seleção campeã do mundo em 1986”, disse ao Opera Mundi o jornalista Thiago Varella, especialista em futebol sul-americano. “O que os une 40 anos atrás e hoje é que eles eram os organizadores de equipes que eram mais suor do que técnica. O Estudiantes tricampeão da América já foi chamado na Europa de time mais sujo do mundo. O atual não chega nesse nível, mas o estilo lembra mais o de 30 anos atrás do que o de equipes argentinas bem organizadas”.
Melhor da história
“Temos de erguer um monumento para todos os jogadores. Verón é o melhor jogador da história do Estudiantes”, disse o técnico Alex Sabella, ídolo do clube como jogador, com um sorriso do rosto, sem citar sobre qual dos dois estava falando.
Os torcedores seguem na mesma toada de idolatria e reconhecem nos dois os seus mais habilidosos jogadores nos mais de cem anos de história do time alvirrubro. A magia com os pés deu ao pai o apelido de “La Bruja”. A semelhança com o velho fez o filho merecer o apelido de “La Brujita”.
Torcedor fanático do Estudiantes – do tipo que integrava torcidas organizadas e que tinha coragem de chorar nas grandes derrotas – Verón conquistou mais títulos que o pai fora do clube de coração. Enquanto Juan Ramón teve uma passagem apenas razoável pelo futebol grego, Juan Sebastián jogou no Parma (campeão da Copa da Itália, em 1999), na Lazio (campeão italiano e da Copa da Itália, em 2000) no Manchester United (campeão inglês em 2003), no Chelsea, e na Inter de Milão (campeão italiano de 2006 e bicampeão da Copa da Itália, em 2005 e 2006). Nada que tenha empolgado mais ao jogador do que repetir o feito do pai no torneio continental, depois de conquistar o título nacional em 2006 pelo clube do coração dele e de seu pai.
“Depois dos últimos anos, era difícil imaginar ver o clube jogando outra vez uma final de Libertadores”, disse Juan Ramón, referindo-se à passagem do Estudiantes pela segunda divisão do futebol argentino. “No ano passado já foi muito emocionante ver Juan Sebastián disputar a final da Copa Sul-Americana (time foi derrotado pelo Internacional). Agora o meu filho é tão querido por nossa torcida quanto eu fui. Nada é mais lindo que isso”.
Melhor jogador da decisão da Libertadores, Verón concorda com o pai e insiste em colocar o Estudiantes no meio dos grandes clubes argentinos – afinal, tem mais títulos importantes que pelo menos dois deles, o Racing e o San Lorenzo.
“Trocaria tudo o que ganhei por esse título da Libertadores pelo Estudiantes. É o máximo para mim, porque eu cresci aqui”, afirmou após a vitória no Mineirão. Ele ainda promete disputar o bicampeonato em 2010. Mas próximo da aposentadoria, prefere que o futuro do Estudiantes dependa apenas de seus filhos.
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