Visionário, marqueteiro e vulgar. Três adjetivos repetidos em todo o mundo para qualificar o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, que em meio à maior crise financeira desde os anos 30, gasta dezenas de milhões de euros para montar o time mais badalado do futebol mundial. Não faltam torcedores empolgados nem críticos da postura desse engenheiro de 62 anos, recém eleito comandante do clube pela segunda vez.
Apenas neste mês, ele bancou duas das três mais caras contratações da história: a maior de todas, do português Cristiano Ronaldo (94 milhões de euros), e do brasileiro Kaká (65 milhões).
Enquanto fãs do clube espanhol já se acotovelam em lojas de todo o mundo para comprar modelos com os nomes dos craques, lendas do esporte como o britânico Bobby Charlton criticam as somas exageradas e temem por uma era de irresponsabilidade nos gastos dos clubes, que eventualmente afetariam profissionais em todo o planeta.
Mas Pérez, dono da ACS, segunda maior construtora do mundo, não parece satisfeito com as novas aquisições. Num dos países mais afetados pela crise, com taxas de desemprego de 36% entre os mais jovens, ele diz ter muitos milhões a mais para contratar jogadores de renome como o atacante David Villa, do Valencia e da seleção espanhola, e Franck Ribéry, do Bayern de Munique e da seleção francesa.
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“Queremos sempre os melhores do mundo no Real Madrid. É essa nossa filosofia”, disse Pérez, presidente do clube nove vezes campeão europeu, após assumir o cargo pela segunda vez, no início deste mês. O histórico do dirigente comprova que ele consegue o que deseja, nem que para isso precise injetar recursos da própria empresa. A contrapartida? Apenas notoriedade e prazer por ajudar o clube de coração, dizem seus assessores.
Galáticos 2: o retorno
Logo após assumir o cargo pela primeira vez, em 2000, Pérez iniciou a chamada era dos galáticos no clube e tirou do rival Barcelona o melhor jogador do mundo da época segundo a Fifa, o português Luis Figo, por 60 milhões de euros. No ano seguinte, pagou 73,5 milhões de euros à Juventus de Turim pelo francês Zinédine Zidane, na maior transferência da história até então. Conseguiu com isso a Liga dos Campeões de 2001, seu maior êxito.
Depois disso, a decadência foi clara e os investimentos no brasileiro Ronaldo (45 milhões de euros) e no inglês David Beckham (37,5 milhões), além de outros jogadores famosos, fizeram do clube uma piada global por conta da falta de sucesso esportivo à altura dos gastos. Fracasso? Não para Pérez, que aplica a mesma fórmula no novo mandato.
O retorno, garante ele, vem em exposição da marca no mundo inteiro e em receitas com propaganda, direitos de transmissão de TV e ações de marketing. “Tudo que gastamos se reverte mais à frente, não há dúvida disso”, costuma dizer.
Após o primeiro ano de Pérez no cargo, o Real tinha receita de 137,9 milhões de euros. Graças à popularização da marca no mundo, com as contratações astronômicas que levam o clube aos rincões da Ásia, do Oriente Médio e da América Latina, o clube arrecadou no ano passado 365,8 milhões de euros. A evolução foi de 165%.
“Isso é efeito da mudança no modelo de gestão instituído por Pérez”, disse o treinador italiano Arrigo Sacchi, um dos mais renomados do futebol mundial e vice-campeão da Copa do Mundo de 1994, ao Il Giornale. “Ele é uma espécie de rei Midas. Só com uma excursão ao Japão e à China, arrecadaram 25 milhões de euros quando ele era presidente na primeira vez. É incrível.”
Político conciliador
Pérez começou a carreira como político, logo após o ditador Francisco Franco (1892-1975), notório torcedor do Real Madrid, deixar o governo, em 1973. O jovem engenheiro, então, participava da gestão de órgãos públicos e mesmo com o retorno da democracia, seguiu na administração pública, como um centrista conciliador.
Após o fracasso na candidatura como parlamentar nas eleições gerais de 1982, Pérez voltou-se à carreira no setor privado. Acabou dono da ACS e de uma das maiores fortunas da Europa, que o levaram a ampliar a influência no clube mais importante do planeta. Mas como reeditar em meio à crise global resultados de anos atrás em termos de receita? Nem ele sabe explicar exatamente. O espaço para crescimento parece bem menor.
O risco pode ser alto, mas o entusiasmo com as estrelas que chegam também é, em especial após uma temporada na qual o Barcelona conquistou tudo que disputou, utilizando principalmente jogadores formados em casa, cujo custo é bem inferior. Com o retorno de Pérez, esse conflito de filosofias está sendo preparado para os próximos meses. Ainda falta um ano para definir qual adjetivo caberá melhor para descrevê-lo desta vez.
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