A deputada peruana Ruth Luque, uma das líderes do partido de esquerda Mudança Democrática, apresentou nesta quinta-feira (05/01) uma acusação constitucional contra a presidente Dina Boluarte e dois dos seus ministros pelas responsabilidades políticas dos mesmos nas mortes de ao menos 32 pessoas em função da repressão policial contra os protestos realizados com frequência no país desde o dia 10 de dezembro.
Segundo a parlamentar progressista, Boluarte e seus funcionários do alto escalão são “responsáveis por garantir plena vigência dos direitos humanos ou proteger a população de ameaças à sua segurança, de acordo com o artigo 5 da atual constituição, que foi claramente violado nos últimos meses, como vemos cada vez que a imprensa noticia novas mortes”.
Além da presidente, foram acusados o chefe do Conselho de Ministros, Alberto Otárola, e o ministro da Justiça e Direitos Humanos, José Tello.
A acusação também envolve dois ex-funcionários de Boluarte: César Cervantes, ex-ministro do Interior, e Pedro Ângulo Arana, ex-chefe do Conselho de Ministros. Ambos renunciaram após menos de duas semanas em seus cargos, justamente em função do desgaste que o governo vinha sofrendo devido à repressão contra as manifestações e as mortes produzidas por essa – Arana, inclusive, foi substituído em seu cargo por Otárola, que inicialmente foi nomeado como ministro da Defesa, mas assumiu a chefatura do Conselho após a renúncia do primeiro.
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A deputada peruana Ruth Luque, que apresentou uma acusação constitucional contra a presidente Dina Boluarte
Os protestos no Peru se iniciaram três dias após a mudança de governo que se produziu com a destituição de Pedro Castillo e a posse de Dina Boluarte como primeira mulher a governar o país. As organizações sociais que promovem a mobilização afirmam que o novo governo é ilegítimo e que a crise política do país deve ser solucionada com a realização de novas eleições ainda no primeiro semestre de 2023.
O governo de Boluarte apresentou um projeto que antecipa o calendário eleitoral em dois anos, fazendo com que as próximas eleições gerais, programadas para abril de 2026, sejam realizadas em abril de 2024. Essa iniciativa já foi aprovada em primeiro turno no Congresso, mas deverá superar uma nova votação em fevereiro antes de poder ser promulgada.
Contudo, as organizações sociais já afirmaram que consideram o projeto insuficiente, e que vão insistir em que o pleito deve acontecer em 2023. Enquanto isso, seguirão desconhecendo a legitimidade do atual governo.
Os protestos no Peru foram retomados nesta quarta-feira (04/01), depois de dez dias de trégua em função das festas de fim de ano.