O Departamento de Estado norte-americano concedeu a extradição do ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), anunciou nesta terça-feira (21/02) o Ministério Público do Peru. O pedido havia sido feito pelo sistema judicial peruano por delitos de corrupção, entre outros crimes, envolvendo a construtura brasileira Odebrecht, num caso ligado a operação Lava Jato.
“A Procuradoria-Geral peruana, como autoridade central em matéria de extradições, informa que tomou conhecimento de que o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América concedeu a extradição de Alejandro Toledo Manrique, pelos crimes de conluio e lavagem de dinheiro”, anunciou a Procuradoria-Geral no Twitter.
O Ministério Público acrescentou que o Gabinete de Cooperação Judiciária Internacional e Extradições do órgão “está coordenando com as autoridades nacionais e estrangeiras a breve execução da sua extradição”.
O ex-procurador Ivan Meini disse à estação de rádio peruana RPP que a extradição de Toledo para o Peru é “iminente, pois não há mais recursos a apresentar e o processo de extradição está terminado”.
“O que deve acontecer nas próximas horas ou dias é os governos chegarem a um acordo sobre como organizar o retorno de Toledo ao Peru”, analisou.
Meini também acha “provável” que o Ministério Público peruano solicite a prisão preventiva enquanto decorre o julgamento de Toledo. Ele poderá permanecer numa prisão em Lima, onde também estão detidos os ex-presidentes peruanos Alberto Fujimori (1990-2000) e Pedro Castillo (2021-2022).
Propina envolvendo a Odebrecht
Toledo, de 76 anos, é acusado de receber dezenas de milhões de dólares em subornos da Odebrecht quando era presidente. Ele é suspeito de crimes de lavagem de dinheiro, conluio e tráfico de influência, em relação a licitações para a construção da Rodovia Interoceânica entre o Brasil e o Peru.
Mandel Ngan/AFP
Toledo foi presidente do Peru de 2001 a 2006
Em fevereiro de 2019, o Ministério Público peruano anunciou que havia firmado um acordo de delação premiada com o empresário peruano-israelense Josef Maiman, que admitiu ter ajudado Toledo a receber propinas distribuídas pela Odebrecht e a lavar o dinheiro em paraísos fiscais.
Maiman disse ao Ministério Público que a Odebrecht depositou em contas que pertenciam a ele cerca de 35 milhões de dólares em propinas para Toledo.
O ex-presidente passou a ser investigado quando Jorge Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, revelou ter pagado propinas a Toledo para que a construtora vencesse as licitações da construção de dois trechos da Rodovia Interoceânica.
Barata disse aos promotores que o dinheiro foi depositado aos poucos, entre 2004 e 2010, nas contas de Maiman, usado como laranja pelo ex-presidente. Segundo o empresário, o dinheiro era posteriormente repassado à Ecoteva, uma companhia que tem a sogra de Toledo, Eva Fernenbug, como sócia.
Prisão nos EUA
Toledo foi detido em 2019 na Califórnia, onde viveu durante os últimos anos. Ele passou oito meses na prisão devido ao risco de fuga, mas foi colocado em prisão domiciliar em março de 2020, devido à pandemia de covid-19. Ele nega as acusações.
O capítulo peruano do caso Odebrecht, considerado o maior escândalo de corrupção na América Latina, envolveu também os ex-presidentes Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), bem como a ex-candidata presidencial e líder do partido Força Popular Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, que foi derrotada por Castillo no pleito de 2021. García cometeu suicídio em 2019, antes de ser preso.