Depois de apenas dois encontros com o governo, os estudantes chilenos que estão há cinco meses em greve, pedindo mudanças no sistema educacional, decidiram abandonar a mesa de negociações. Eles acusam o ministro da Educação, Felipe Bulnes, de não fazer concessões em relação à gratuidade no ensino superior, principal demanda do movimento.
Efe (05/10/2011)
Giorgio Jackson, Camila Vallejo e outros dirigentes estudantis se reúnem com Bulnes
Logo depois do anúncio, dezenas de estudantes montaram barricadas em Santiago, entrando em choque com a polícia. Dirigentes da Confech (Confederação de Estudantes da Universidade do Chile) convocaram uma grande marcha para esta quinta-feira (06/10), no centro da capital. O governo negou autorização para a realização da marcha e a polícia deve reprimir os manifestantes com tropas de choque e gás lacrimogêneo, como de costume.
O segundo encontro entre estudantes e governo, ontem (05/10), terminou de forma tensa. O representante dos colégios técnicos do Chile, Cristián Pizarro, contou que os estudantes se colocaram de forma enérgica contra a intransigência do governo. “Me levantei e disse: senhor ministro, me retiro, uma vez que acho irrisória a proposta que o senhor nos deu. Estão sendo intransigentes e eu abandono a mesa de diálogo”.
O impasse se produziu depois de o governo propor bolsas para 40% dos estudantes. O percentual é o mesmo que vigora hoje, mas, de acordo com o ministro da Educação, o benefício seria estendido também para estudantes de colégios técnicos, que hoje não são cobertos por este incentivo.
Os estudantes mais radicais defendem a gratuidade total. Os mais moderados querem a ampliação do benefício para um número maior de jovens.
Leia mais:
Camila Vallejo: quem é esta garota?
Estudantes chilenos acusam governo de querer romper diálogo
Pacote de leis para reprimir manifestações é criticado no Chile
Após protestos, Chile reajusta em 7,2% orçamento para educação
Popularidade de presidente chileno despenca novamente e registra 22%
Estudantes fazem 'vaquinha' e viúva recebe de volta carro incendiado em manifestação
“Nunca vamos declarar o fracasso da mesa de diálogo”, disse Bulnes, mesmo admitindo que “não houve maiores progressos” depois dos dois encontros. “Não acho que dar gratuidade aos ricos seja uma boa política. Não é correto que os pobres financiem a educação dos ricos. Essa é uma diferença fundamental entre as duas visões”.
Na região do Maule, jovens com o rosto coberto lançaram pedras contra uma delegacia de polícia. Na capital, foram lançadas bombas de tinta contra carros da tropa de choque. Barricadas com fogo impedem o trânsito em vários pontos de Santiago.
A nova onda de protestos emerge na mesma semana que o governo do presidente Sebastián Piñera anunciou o endurecimento das leis para punir os que cometam excessos em protestos de rua. O projeto de lei, que prevê pena de três anos para os que promoverem desordens e ocupem violentamente colégios e faculdades, vem sendo duramente criticado pela Associação de Magistrados do Chile e pelos movimentos sociais.
Direitos humanos
Os choques entre manifestantes e policiais reacendeu o debate desatado no início desta semana, quando o presidente Sebastián Piñera anunciou o envio de um projeto de lei ao Parlamento destinado a endurecer a pena aos estudantes que se envolvam em manifestações. O pacote de leis foi duramente criticado pela Associação dos Magistrados do Chile e por políticos da oposição.
Ao Opera Mundi, a diretora executiva da ONG internacional de direitos humanos Anistia Internacional, Ana Piquer, disse que as medidas propostas por Piñera “são um sinal de que o governo tenta criminalizar os movimentos sociais”. Ela lembrou ainda que o governo “vem dando respaldo à forma de atuar dos Carabineros (polícia chilena), apesar da grande quantidade de denúncias de violência excessiva, detenções ilegais e maus tratos durante a detenção”.
“É necessário lembrar que a manutenção da ordem pública ou até mesmo a ocorrência de atos de violência durante as manifestações não podem ser argumentos para que o Estado viole os direitos humanos”. Piquer disse que o governo Piñera – cujo índice de aprovação é de 22% – “considera todos os protestos sociais como algo não desejado, algo que é necessário evitar e dissolver. Quando, na verdade, protestar não é mais que exercer um direito humano, de livre expressão, de livre reunião. Este é o olhar que falta incorporar neste governo”.
No início da tarde, a polícia chilena já registrava um saldo de 6 policiais feridos e 28 manifestantes detidos durante os violentos distúrbios em Santiago. O governo acusou os estudantes de incitarem a violência ao convocar uma marcha que não havia sido autorizada pelas autoridades municipais.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL