Dois anos depois de o movimento estudantil dominar as ruas e o cenário político chileno, os jovens que desde então se manifestam e protestam de diversas formas têm a grande oportunidade de mudar o país por meio das urnas. Muitos deles votarão pela primeira vez, e alguns inclusive se candidataram ao Parlamento. Porém, há também outros que acham que o voto não é uma forma de mudar efetivamente o país.
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A grande quantidade de candidatos às eleições presidenciais (nove) e parlamentares, e o surgimento de novos rostos na política são uma mostra de como o movimento estudantil conseguiu mudar o ambiente político no Chile. Entre essas novas caras, estão algumas figuras que surgiram justamente nas primeiras manifestações, como Camila Vallejo, Giorgio Jackson e Francisco Figueroa. Até entre os presidenciáveis há figuras que se candidataram dizendo falar em nome dos movimentos sociais ou de algum deles, como o economista Marcel Claude, a dirigente social Roxana Miranda e o ecologista Alfredo Sfeir.
Agência Efe (14/07/11)
Estudantes em megaprotesto de 2011 em frente do palácio presidencial de La Moneda, em Santiago
O pensamento dos jovens que protestam desde 2011, no entanto, mostra como essa nova geração se posiciona frente a um quadro que mistura as candidaturas surgidas nos últimos anos com as que representam as frentes políticas tradicionais.
Um exemplo disso é a estudante de física Javiera Laing, que diz que a participação dos estudantes nessas eleições é a concretização do sucesso estudantil em levar o tema educacional e as mudanças nesse âmbito ao centro do debate político nacional. “Quem for eleito tem de ter ideias compatíveis com as que foram defendidas nesses anos”, diz Laing, que também considera “necessário votar em um parlamentar que apoie ao presidente na ideia de buscar gratuidade e qualidade na educação”.
Por sua vez, o estudante de comunicação audiovisual com especialização em jornalismo Ignacio Gazmuri acredita que o voto das novas gerações tem de representar uma ruptura com a política tradicional, representada pelas duas grandes coalizões, a Nova Maioria (antiga Concertação, de centro-esquerda, que apoia Michelle Bachelet) e a Aliança, de direita, ligada à Evelyn Matthei e ao presidente Sebastián Piñera. “Vou votar em um candidato que não apoie esse duopólio. Essa mudança de paradigma tem de começar com alguns, mas depois abrirá caminho para que novas frentes possam renovar o sistema”, comentou o estudante.
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Mas também há os que acolhem o chamado de alguns setores do Movimento Estudantil — algumas correntes dentro do movimento universitário, mas, sobretudo, nas organizações de Ensino Médio — para boicotar a eleição como forma de protesto. Para a aluna do curso técnico em radioterapia Tamara Esquivel, “se houvesse alguém que me representasse, definitivamente, não seria nem um candidato à Presidência, nem a deputado, já que não sou partidária de que uma pessoa tenha de ter mais poder que a outra”.
Divulgação
Giorgio Jackson e Camila Vallejo, ex-líderes estudantis, durante campanha por vaga no Legislativo
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Sebastián Balcazar, estudante de jornalismo, também mostra posição contrária à eleição e explica que, atualmente, não pensa que essa instância seja uma prioridade. Ele explica: “o que temos de fazer hoje é fortalecer a força multissetorial. É necessário criar espaço de discussão e deliberação comunitária, priorizar a criação do poder popular”.
Uma pesquisa realizada pelo site puntajenacional.cl, especializado em educação, mediu o interesse eleitoral dos votantes entre 18 e 23 anos. Os resultados concluíram que 22% dos entrevistados estão certos de que não vão votar e mostra que o desinteresse a descrença no sistema eleitoral é muito mais acentuado entre as garotas (62%) que entre os rapazes (38%).