O chanceler da Venezuela, Elías Jaua, expôs nesta sexta-feira (07/06) pontos de acordo discutidos com secretário de Estado norte-americano, John Kerry, na última quarta, quando ambos se encontraram na Guatemala, durante a Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos). Segundo ele, em reunião bilateral, os dois países manifestaram intenção de designar embaixadores e estabelecer um canal de comunicação direto entre Washington e Caracas para normalizar as relações diplomáticas entre os governos.
“Ele [Kerry] começou a reunião dizendo: ‘eu quero entender por que nós dois estamos com relações tão más’. E eu lhe contei a história de 2002, para começar, para não ir tão longe”, contou Jaua, fazendo alusão ao ano do golpe contra Hugo Chávez e ao reconhecimento dado pelo governo dos Estados Unidos a Pedro Carmona Estanga, então presidente da Fedecámaras – entidade que reúne os empresários do país e liderou a investida – que foi juramentado como presidente da Venezuela na ocasião.
Agência Efe
Jaua e Kerry se encontraram na quarta-feira na Guatemala
O ministro das Relações Exteriores venezuelano disse ter dito a Kerry que Caracas está disposta a ter relações “normais” com os EUA, baseadas no respeito à dinâmica interna de seu país. “Eu lhe disse (…) que vocês respeitem a opção de modelo socialista que nós escolhemos, uma construção do socialismo com as mais amplas liberdades para nosso povo, na restituição plena dos direitos. E ele respondeu: ‘estamos de acordo com respeitar’”, explicou o chanceler venezuelano, durante um ato de “governo de rua”, conduzido por Maduro.
De acordo com Jaua, no encontro bilateral de cerca de 40 minutos, Kerry também disse achar “importante” designar embaixadores em seus países “o mais rápido possível”. “Eu disse que essa também é a intenção do presidente Nicolás Maduro”, contou. “Concordamos que muitas vezes atores políticos, tanto dos EUA como a ultradireita venezuelana, contaminam a relação com falsas informações”, explicou.
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Maduro insinuou, por sua vez, que o encontro é o reconhecimento por parte de Washington à sua vitória na eleição presidencial de 14 de abril, questionada pelo opositor Henrique Capriles. “Foi uma reunião entre o governo eleito dos EUA e o governo eleito da Venezuela. Para bom entendedor, poucas palavras [bastam]”, disse. Maduro também afirmou que a elite norte-americana “terá que entender” o modelo de governo iniciado por Chávez: “Eles têm que ter a capacidade de reconhecer as diferenças”, afirmou.
Em entrevista coletiva concedida após a reunião bilateral, Kerry anunciou que os EUA e a Venezuela reabrirão o diálogo “no mais alto nível” diplomático para tentar restabelecer seus respectivos embaixadores. “Senti que foi um encontro muito, muito positivo”, declarou, na ocasião, complementando que “haverá um diálogo contínuo para tentar estabelecer uma agenda, começar a mudar o diálogo” entre as gestões de Maduro e Barack Obama.
Em abril, o presidente venezuelano nomeou Calixto Ortega como novo encarregado de negócios em Washington com o objetivo de melhorar as relações bilaterais. Pouco depois da morte de Hugo Chávez, o diálogo entre os países havia sido interrompido por críticas de funcionários norte-americanos ao processo eleitoral que deu vitória a Maduro. O desgaste da relação entre os países tomou corpo em 2010, quando Chávez recusou a nomeação de um embaixador dos EUA em Caracas e Obama suspendeu o visto do embaixador da Venezuela em Washington.