O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, conversaram neste domingo (02/04) por telefone a respeito da prisão do jornalista americano Evan Gershkovich, acusado por Moscou de espionagem.
O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) anunciou na última quinta-feira a prisão do correspondente do jornal americano Wall Street Journal em Moscou, acusando-o de colher informações sobre uma instalação militar secreta.
Segundo o Ministério russo do Exterior, Lavrov teria dito a Blinken que considera inaceitável a politização do caso por Washington, e que o destino do jornalista será decidido pela Justiça russa. Ele reiterou as acusações do FSB e disse que o americano teria sido pego “em flagrante”.
De acordo com a pasta, o ministro russo chamou a atenção de Blinken para a “necessidade de se respeitar as decisões das autoridades russas, em pleno acordo com a leis e as obrigações internacionais da Federação Russa”.
Lavrov “enfatizou ser inaceitável que as autoridades em Washington e a imprensa ocidental manipulem o caso com uma clara intenção de lhe dar uma conotação política”, disse o ministério, em nota.
Segundo a pasta, a conversa – um raro telefonema entre os dois diplomatas desde o início da invasão russa da Ucrânia – ocorreu após a iniciativa do secretário de Estado americano.
Detenção 'inaceitável', diz Blinken
O Departamento de Estado em Washington, por sua vez, relatou que Blinken pediu a libertação imediata de Gershkovich e expressou a “grave preocupação” do governo americano com sua prisão, que o secretário afirmou ser inaceitável.
Blinken também pediu a libertação do empresário americano Paul Whelan que, segundo o Departamento de Estado, teria sido preso injustamente pelas autoridades russas em 2018, também por acusações de espionagem. Ele cumpre pena na Rússia de 16 anos de prisão.
Mais de 30 veículos de imprensa e entidades de defesa da liberdade de imprensa escreveram para o embaixador russo em Washington expressando preocupação com os sinais de que a Rússia estaria criminalizando a atividade jornalística dentro do país.
Logo após prisão de Gershkovich, a Casa Branca classificou como “ridícula” a acusação de espionagem contra o jornalista.
Alexander Zemlianichenko/AP/dpa/picture alliance
Jornalista americano Evan Gershkovich, acusado por Moscou de colher informações sobre uma instalação militar classificada como segredo
'Segredos de Estado'
Na quinta-feira, o FSB informou a abertura de um processo criminal contra Gershkovich por suspeita de espionagem.
O serviço de inteligência russo disse que deteve o jornalista de 31 anos na cidade de Yekaterinburg, nos Urais, quando ele estaria tentando obter informações secretas, sem fornecer provas documentais da acusação.
“Foi estabelecido que E. Gershkovich, agindo em uma missão do lado americano, estava coletando informações classificadas como segredo de Estado sobre a atividade de um dos empreendimentos do complexo militar-industrial da Rússia”, disse o FSB.
O jornalista afirmou em um tribunal russo que era inocente da acusação, segundo a agência de notícias oficial russa Tass. A corte, porém, determinou que Gershkovich seja mantido em prisão cautelar até 29 de maio.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse que as atividades de Gershkovich em Yekaterinburg não estavam “relacionadas ao jornalismo” e que não era a primeira vez que a função de jornalista estrangeiro teria sido usada como fachada para outras atividades.
Gershkovic seria o primeiro jornalista estrangeiro preso por acusação de espionagem na Rússia desde o fim da União Soviética.
WSJ exige libertação de Gershkovich
O Wall Street Journal publicou um comunicado neste domingo exigindo a libertação de seu correspondente em Washington.
“O caso de Evan é uma afronta perversa à liberdade de imprensa e deve instigar a indignação de todos os povos livres e governos ao redor do mundo”, afirma a nota. O WSJ diz que a prisão “aparenta ser uma provocação calculada para constranger os EUA e intimidar a imprensa estrangeira que ainda trabalha na Rússia”.
“Continuaremos a fazer tudo a nosso alcance para assegurar a libertação de Evan”, conclui a nota enviada aos funcionários do jornal pela editora-chefe, Emma Tucker.