Uma alteração nas regras para viagens entre o Canadá e os Estados Unidos tem apresentado repercussões do lado norte da fronteira muito além das esperadas. A exigência do passaporte para que canadenses entrem no país vizinho, imposta a partir de 1º de junho, reacendeu a discussão de um assunto delicado para ambos as nações: os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.
A mudança nas normas de imigração foi uma iniciativa do governo norte-americano. Ela faz parte da chamada Política de Viagem do Hemisfério Ocidental (WHTI, na sigla em inglês), estruturada pelo congresso dos Estados Unidos após os atentados que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center.
De acordo com essa política, todo cidadão de países da América do Norte tem que apresentar um documento classificado como “confiável” pela imigração dos para cruzar a fronteira. Na opinião de milhares de canadenses, acostumados a entrar e sair do território norte-americano apresentando qualquer documento de identidade, além do inconveniente e dos custos para emissão do passaporte (o equivalente a cerca de 160 reais), a nova regra remete a uma acusação velada.
“É lógico que isso tem a ver com o 11 de Setembro”, diz a universitária Deborah Loach, 24 anos, uma das canadenses que compareceu ao posto de emissão do passaporte no centro de Toronto semana passada. “Eles [os norte-americanos] culpam a gente [os canadenses]. Dizem que os terroristas vieram do Canadá”.
A afirmação da estudante se baseia em declarações de políticos norte-americanos. A última delas foi feita em abril deste ano, pelo senador e ex-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, John McCain: “Alguns dos sequestradores de 11 de Setembro vieram do Canadá, como todos sabem”, disse em entrevista à rede norte-americana de televisão Fox.
“Para mim, é indiferente. Eu sempre tive passaporte. Nada vai mudar”, continua Loach. “Mas existem vários canadenses que não têm [o passaporte], e que também não gostam dos Estados Unidos. Esta mudança só tende a piorar as coisas”.
Mais comedido, o agente financeiro Adam Cadod, 26 anos, diz entender as restrições e não acredita que os Estados Unidos culpem o Canadá pelos atentados. Porém, diz ter certeza que o 11 de Setembro motivou as alterações nas regras da imigração. “Eles têm suas razões. Se querem o passaporte, eu vou apresentar. Sem problemas”, afirma.
Demanda
O governo canadense não tem se pronunciado sobre as mudanças nas regras da imigração. Conforme o princípio de reciprocidade, ele adotou as mesmas exigências para que cidadãos dos Estados Unidos entrem no Canadá.
O Canadá, contudo, tem sentido o efeito da alteração na demanda pelos passaportes. Em junho, o número de solicitações do documento subiu 10% na comparação com pico da demanda da temporada passada, de novembro de 2008 a março de 2009. No mês passado, cerca de 21 mil canadenses solicitaram seu passaporte por dia.
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