O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, equiparou nesta terça-feira (20/06) o líder chinês, Xi Jinping, a ditadores durante um evento na Califórnia para arrecadar doações para o Partido Democrata. O comentário gerou fortes reações de Pequim.
No evento, que contou com a presença de jornalistas, Biden disse que Xi se irritou com o episódio de um balão chinês – o qual Washington acusou se tratar de uma ferramenta de espionagem – que sobrevoou o território norte-americano em fevereiro antes de ser abatido por caças da Força Aérea dos EUA.
“A razão pela qual Xi Jinping ficou bastante irritado quando eu abati aquele balão com duas caixas cheias de equipamentos de espionagem é que ele sequer sabia que isso estava lá”, disse o norte-americano. “É um grande constrangimento para ditadores quando não sabem o que aconteceu”, completou.
Biden tentou ainda aplacar preocupações em relação ao gigante asiático, afirmando aos doadores de seu partido que “a China tem dificuldades econômicas reais”.
Sobre a postura de Xi no que diz respeito às relações bilaterais, o norte-americano disse: “Estamos agora em uma situação na qual ele quer ter novamente um relacionamento”.
Melhora nas relações “levará tempo”
Os comentários de Biden vieram pouco depois de o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, realizar uma visita oficial a Pequim para restabelecer linhas de comunicação e aliviar as recentes tensões entre as duas superpotências.
Segundo Biden, Blinken realizou “um bom trabalho” em sua viagem à China, mas disse que ainda “levará tempo” para uma melhora nas relações. A rivalidade entre dois países, que abrange diversas áreas, se agravou com o recente episódio do suposto balão espião, que acabou por gerar uma crise diplomática.
Official White House/ Adam Schultz
Biden tentou ainda no evento aplacar preocupações em relação ao gigante asiático
O norte-americano também mencionou outro ponto de tensão nas relações com Pequim: uma recente reunião de cúpula dos países que integram o chamado grupo Quad – Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos – com o objetivo de reforçar a paz e a estabilidade da região marítima da Ásia-Pacífico.
As quatro nações se comprometeram a trabalhar unidas no Mar do Sul da China e no Oceano Índico, disse Biden. “Ele [Xi] ficou realmente irritado com o fato de eu insistir que nós devemos unir o chamado Quad”, ressaltou.
O Mar do Sul da China é palco de uma disputa territorial entre países vizinhos e Pequim, que reforçou sua presença militar na região.
China acusa EUA de “bullying”
O Ministério chinês do Exterior avaliou os comentários de Biden equiparando Xi a ditadores como uma “evidente provocação política”.
“Os comentários feitos pela parte norte-americana são extremamente absurdos e irresponsáveis”, afirmou a porta-voz da pasta, Mao Ning, acrescentado que “vão totalmente contra os fatos, violam gravemente os protocolos diplomáticos e infringem severamente a dignidade política da China”.
“A China está imensamente insatisfeita e se opõe com firmeza a isso”, acrescentou.
Mao reiterou as afirmações chinesas de que o balão abatido no espaço aéreo norte-americano teria propósitos de pesquisa meteorológica, tendo saído de seu trajeto acidentalmente.
“Os EUA deveriam ter lidado com isso de maneira calma e profissional”, disse a porta-voz. “No entanto, distorceram fatos […], revelando por completo sua natureza hegemônica e de bullying.”
As relações entre Washington e Pequim vêm sendo estremecidas por tensões comerciais e a questão de Taiwan, apoiada pelos EUA.
Os comentários de Biden se somam a outras declarações polêmicas feitas pelo líder norte-americano em eventos de doadores. Nesses encontros, normalmente de pequeno porte, câmeras e gravações costumam ser proibidas, mas jornalistas podem ouvir e transcrever as falas do presidente.
Em um evento do tipo em outubro passado, por exemplo, Biden chamou atenção ao falar de uma suposta ameaça russa de um “armagedon nuclear”.