Dan Turner, pai do nadador norte-americano Brock Turner, afirmou que a condenação do filho a seis meses de prisão por estuprar uma jovem inconsciente em janeiro de 2015 em uma festa na Universidade de Stanford (Califórnia) é “um preço exorbitante a se pagar por 20 minutos de ação”.
“[A pena] é um preço exorbitante a se pagar por 20 minutos de ação dos pouco mais de 20 anos de vida que ele tem. O fato de que ele agora precisar se registrar como um abusador sexual pelo resto da vida altera para sempre onde ele pode viver, visitar, trabalhar e como ele poderá interagir com pessoas e organizações”, protestou Dan Turner.
Um trecho da fala do pai do nadador em defesa do filho foi publicada no último sábado (04/06) no Twitter de Michele Dauber, professora de Direito em Stanford, onde Brock estudou. Questionada sobre a veracidade da fala, Dauber disse que o pai do nadador leu a carta durante a audiência em que o juiz do caso, Aaron Persky, deu a sentença, na última quinta-feira (02/06).
Reprodução/YouTube Associated Press
Juiz do caso disse que a cadeia teria “grave impacto” sobre Brock Turner (à esquerda); pena máxima era de 14 anos de prisão
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“Ele nunca mais será aquela pessoa feliz com uma personalidade tranquila e sorriso acolhedor”, disse o pai, acrescentando que Brock “pode fazer muitas coisas positivas como um contribuidor para a sociedade” e poderia educar estudantes sobre o consumo de álcool e “promiscuidade sexual”.
#brockturner father: son not “violent” only got “20 mins of action” shouldn't have to go to prison. @thehuntinground pic.twitter.com/IFECJs687b
— Michele Dauber (@mldauber) 5 de junho de 2016
Com a hashtag “#BrockTurner”, internautas criticaram a fala de Dan Turner e também a sentença, que consideraram leve. “Formas melhores de gastar 20 minutos: ensinar a seu filho que mulheres são pessoas, ensinar seu filho que estupro é ruim, ensinar decência humana a seu filho”, diz uma mensagem no Twitter de Amy Jo Ryan. “Cultura do estupro é quando o pai do estuprador condenado Brock Turner caracteriza o abuso como '20 minutos de ação'”, tuitou Farrah Kahn, coordenadora de rede de apoio a vítimas de violência sexual na Universidade Ryerson (Canadá).
rape culture is when father of convicted rapist #BrockTurner characterizes the assault as “20 mins of action”. https://t.co/d9JB74VYQ5
— Farrah Khan (@farrah_khan) 6 de junho de 2016
O depoimento da vítima, cujo nome não foi divulgado para que ela tenha sua privacidade preservada, foi tornado público e repercutiu na internet. Ela, que se dirigiu diretamente a Brock ao depor no tribunal, disse que, após beber em uma festa universitária na noite de 17 de janeiro de 2015, se lembra apenas de acordar num hospital.
Brock, que diz que houve consentimento no ato sexual, deverá passar apenas três dos seis meses na prisão, porque o juiz afirmou que a falta de histórico criminal e referências de bom caráter o persuadiram a dar uma pena bem menor do que o máximo previsto para as acusações do caso, de 14 anos de prisão. A cadeia teria um “grave impacto sobre ele”, disse o juiz Persky, que também foi aluno da Universidade de Stanford. Em sua declaração, o juiz também afirmou que Brock “tem menos culpa moral” porque estava bêbado durante o ato e que uma sentença leve seria um “antídoto” à “ansiedade” sofrida pelo nadador devido à atenção midiática sobre o caso.
Better ways to spend 20 mins:
– teach your son women are people
– teach your son rape is bad
– teach your son human decency#BrockTurner— Amy The Great (@AmyJoRyan) 6 de junho de 2016
O promotor do caso, Jeff Rosen, afirmou que “a punição não corresponde ao crime”. “O agressor não se responsabilizou pelo que fez, não demonstrou remorso e não falou a verdade. A sentença não contempla a seriedade desta agressão sexual ou o trauma da vítima. Estupro no campus não é diferente de estupro fora do campus. Estupro é estupro”, afirmou.
Uma petição online para que o juiz seja removido de seu posto lançada nesta manhã reuniu mais de 114 mil assinaturas ao longo do dia. A professora Dauber disse ao jornal britânico The Guardian que lançaria uma campanha formal junto à Corte do condado de Santa Clara, na Califórnia, pelo afastamento do juiz. “Ele tornou as mulheres em Stanford e em toda a Califórnia menos seguras”, disse Dauber. “A mensagem para mulheres e universitárias é 'você está sozinha', e a mensagem para potenciais agressores é 'eu cuido de você'.”
Em entrevista por email ao The Guardian, a jovem estuprada por Brock diz querer permanecer anônima para proteger sua identidade, mas também considera seu anonimato uma afirmação pois “todas essas pessoas estão lutando por alguém que elas não conhecem. Eu não preciso de rótulos, de categorias, para provar que sou digna de respeito, que eu devo ser ouvida”, disse ela. “Por ora, eu sou todas as mulheres.”