Jean-Marie Le Pen, que por décadas foi um dos principais expoentes da extrema direita da França, foi acusado formalmente nesta sexta-feira (13/09) de desvio de dinheiro público em um caso que envolve suspeita de emprego de funcionários fantasmas no Parlamento Europeu.
Le Pen, de 91 anos, é o fundador da antiga Frente Nacional, que hoje se chama Agrupamento Nacional (AP). Ele presidiu a legenda por quase quatro décadas. Em 2015, acabou sendo expulso pela sua própria filha, Marine Le Pen, na esteira do escândalo provocado por um comentário sobre o Holocausto.
Nesta sexta-feira, o político veterano esteve em uma audiência no Tribunal de Paris acompanhado de dois advogados. O interrogatório durou mais de quatro horas.
Os juízes-instrutores do caso apontaram que Jean-Marie Le Pen e os dirigentes do partido “colocaram em funcionamento de maneira coordenada e deliberada um sistema de desvios”.
Segundo a acusação, Le Pen e outros deputados do partido usavam fundos do Parlamento Europeu para remunerar funcionários internos da legenda, que eram falsamente registrados como assessores parlamentares. Dessa forma, o partido economizava os pagamentos dos salários do seu quadro de pessoal.
“É um processo claramente político, e é escandaloso que um governo se misture em um caso de liberdade de gestão”, garantiu um dos advogados de Jean-Marie Le Pen, Frédéric Joachim, que defende a presunção de inocência do cliente. Marine Le Pen, a atual presidente do Agrupamento Nacional, já havia sido indiciada no mesmo caso em outubro de 2018.
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Antes de se retirar da vida pública em julho, Le Pen cumpriu sete mandatos no Parlamento Europeu entre 1984 e 2019
Jean Marie Le Pen havia sido convocado em abril para participar de uma audiência, mas não compareceu, por considerar que era protegido pela imunidade de eurodeputado, embora o Parlamento Europeu já tivesse retirado o status no mês anterior. Antes de se retirar da vida pública em julho, Le Pen cumpriu sete mandatos no Parlamento Europeu entre 1984 e 2019.
A justiça suspeita que os dirigentes da antiga Frente Nacional montaram um esquema de emprego de funcionários fantasmas, remunerados com fundos destinados ao legislativo do bloco.
A investigação apontou que o partido de extrema-direita utilizou, entre 2009 e 2017, cerca de 7 milhões de euros (R$ 31,4 milhões), para pagar o salário de assessores fantasmas.