O ex-presidente do Afeganistão Hamid Karzai, que governou o país entre 2001 e 2014, se reuniu nesta quarta-feira (18/08) com o comandante do grupo Rede Haqqani, facção que integra o Talibã, Anas Haqqani, para discutir uma transferência de poder no país após o grupo islâmico conquistar a capital Cabul.

Segundo o jornal britânico The Guardian, um porta-voz de Karzai afirmou que o objetivo do encontro foi para facilitar as negociações com lideranças talibãs. Entre elas estaria o mulá Abdul Ghani Baradar, um dos líderes do grupo que encabeçou conversas sobre a retirada de tropas norte-americanas e que voltou ao país após 20 anos fora.

Karzai está liderando as negociações políticas com o Talibã para garantir a transição de poder, já que o ex-presidente Ashraf Ghani renunciou ao cargo no domingo (15/08) e fugiu do país. Seu paradeiro era até então desconhecido, mas ainda nesta quarta, o Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes anunciou que Ghani foi acolhido pelo governo.

“O Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos pode confirmar que acolheu o presidente Ashraf Ghani e sua família no país por motivos humanitários”, diz nota oficial da chancelaria.

Logo após sua fuga, Ghani afirmou que abandonou o país “para evitar um banho de sangue” onde “incontáveis compatriotas seriam martirizados, e a cidade de Cabul seria destruída”. Com a saída do presidente, o Talibã entrou na capital do país sem qualquer resistência.

A reunião desta quarta-feira também foi acompanhada pelo ex-presidente do Conselho Superior para Reconciliação Nacional Abdullah Abdullah. O órgão é responsável por mediar as relações entre o governo afegão e o talibã. No domingo, Karzai e Abdullah já haviam anunciado a criação de uma pasta responsável pela transição política no país.  

“Este conselho apela às forças de segurança governamentais e às forças de segurança da provocação islâmica dos talibãs para que parem decisivamente os conflitos, o caos e as provocações de pessoas irresponsáveis e não relacionadas, protegendo o seu egoísmo”, declarou Karzai no Facebook. 

No dia seguinte, à CNN Internacional, eles chegaram a falar em “conversas frutíferas” com o Talibã.

Repressão em Jalalabad

Após a tomada do Afeganistão pelo Talibã, relatos de violência já são registrados pelo país. Membros do grupo reprimiram um grupo de manifestantes que protestava contra a troca da bandeira nacional, na cidade de Jalalabad, na região leste do Afeganistão,  

A informação foi confirmada pela emissora catari Al Jazeera. Segundo o veículo, disparos foram feitos contra a mobilização e pelo menos três pessoas foram mortas.

Ainda de acordo com a emissora, os manifestantes haviam recolocado a bandeira do Afeganistão em uma praça central de Jalalabad, substituindo a flâmula do Talibã. 

Durante o governo talibã entre 1996 e 2001, um sistema de controle foi implementado, em que especialmente mulheres eram submetidas à violência e tinham direitos restringidos, como estudar e trabalhar.