* Atualizada às 22h27
Após cinco anos desde a última grande ofensiva terrestre contra a Faixa de Gaza, Israel decidiu nesta quinta-feira (17/07) invadir o território palestino por terra. Por ordem do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tropas israelenses entrarão em Gaza para dar início a uma nova etapa da Operação Margem Protetora, que, ao longo dos últimos dez dias, tem lançado bombardeios aéreos que já mataram mais de 243 pessoas, segundo o Ministério da Saúde em Gaza.
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“O primeiro-ministro e o ministro da Defesa ordeneram que o Exército israelense desse início à operação terrestre com o objetivo de destruir os túneis subterrâneos terroristas construídos em Gaza para dar acesso ao território israelense”, assinala o comunicado emitido pelo gabinete do premiê. Tel Aviv afirma que os túneis foram usados por membros do braço armado do Hamas para invadir Israel e “causar danos em massa aos civis”.
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Agência Efe
Tanques israelenses se dirigem rumo à fronteira de Gaza; contingente é o maior mobilizado desde 2006
Desde o início da ofensiva, lançada em 7 de julho, Tel Aviv nunca descartou uma operação terrestre, sinalizando que, a qualquer momento, Gaza poderia ser invadida. No final de semana, Israel já havia feito uma incursão terrestre em Gaza, mas a ação foi pontual e os soldados permaneceram em solo palestino por apenas 30 minutos. Desta vez, a ofensiva terrestre tem contornos mais amplos.
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De acordo com o jornal Jerusalém Post, unidades da Infantaria, Cavalaria, Engenharia, Artilharia e Inteligência das Forças Armadas israelenses estão tomando diversas áreas no norte, centro e sul de Gaza.
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“A operação atingiu sua fase terrestre. Grandes números de tropas iniciaram um esforço específico para destruir os túnes em Gaza”, disse o general-de-brigada Moti Almoz, porta-voz das Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla, em inglês). Embora a operação militar esteja inicialmente focada em destruir essas redes de acesso supostamente utilizadas por militantes do Hamas, a ofensiva “serão expandidas se necessário”, sinalizou Almoz.
Um comentarista militar da emissora israelense Canal 10 afirma que Tel Aviv está deslocando “quase a totalidade de suas forças regulares”. Embora o tamanho do contingente não tenha sido divulgado oficialmente, o veterano jornalista afirma que o número de soldados enviados é “semelhante” ao deslocado para Gaza na última vez que Israel invadiu o território por terra. Na época, a Operação Chumbo Fundido (deflagrada no fim de 2008 até princípios de 2009) terminou com a morte de cerca de 1.500 palestinos.
Agência Efe
Palestinos seguram o corpo de Bashir Abd Al-Aal, militante do Hamas, em seu funeral no campo de refugiados em Rafah
“Quase todo o exército regular está em Gaza. É uma força impressionante”, ressaltou. Além disso, o Ministério da Defesa israelense já anunciou que mobilizará nesta noite outros 18 mil reservistas para integrar a operação — além dos 48 mil soldados que já haviam sido convocados pelo premiê nos últimos dias. No total, Israel autorizou a incorporação de 66 mil reservistas, o mais alto contigente mobilizado desde a guerra com o Hezbollah, no Líbano, em 2006.
Posição do Hamas
Citado pela agência de notícias árabe Ma'an, Khalid Mashaal, um dos líderes políticos do Hamas, disse hoje que a invasão militar israelense está “destinada a fracassar”. “O que Isarel não conseguiu atingir por meio de ataques aéreos e marítimos, não obterá com sua ofensiva terrestre”, disse Mashaal, de Doha, capital do Catar, de onde atua, por motivos de segurança.
Mais cedo, por meio de comunicado, um suposto porta-voz do Hamas que Israel “pagará um alto preço”. “O início do ataque terrestre israelense em Gaza é um passo perigoso, com consequências ainda imprevisíveis”, disse Fawzi Barhum, em comunicado.
Líderes mundiais reagem
O Egito condenou a decisão israelense, pedindo “máxima moderação” a Tel Aviv para que mais derramamento de sangue civil inocente seja evitado. O Egito foi o responsável por elaborar o plano de cessar-fogo, rejeitado pelo Hamas, que o acusa de deixar Gaza à margem das negociações. O Egito mantém relações diplomáticas muito mais positivas com Israel do que com a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas — a fronteira egípcia na cidade palestina de Rafah, momentaneamente aberta pelo há uma semana, é mantida fechada pelo Egito.
Além da presidente Dilma Rousseff, outros líderes mundiais também criticaram a ação israelense. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pede que Israel “faça mais” para impedir a morte de civis. O chanceler francês, Laurent Fabius, também externou “preocupação extrema” por parte da França. O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, em entrevista a uma TV indiana, disse que “Israel está se autoisolando da opinião mundial”.
“Continuamos a pedir que todas as partes façam de tudo para proteger os civis”, disse Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, para quem, a partir de agora, os “esforços devem ser redobrados”.
Cessar-fogo
Israel também afirma que a ordem de invasão foi aprovada pelo Conselho de Segurança israelense depois de ter fracassado a iniciativa de cessar-fogo proposta e mediada pelo Egito, aceita por Israel e rejeitada oficialmente pelo Hamas — que afirma ter ficado à margem das negociações.
Como contrapartida, o Hamas propôs que aceitaria um cessar-fogo de dez anos, caso Israel aceitasse as seguintes condições: a libertação dos prisioneiros palestinos recapturados após o acordo que trocou mil detidos palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit, em 2011; a abertura da fronteira entre Gaza e Israel, permitindo o trânsito de pessoas e alimentos; a supervisão internacional do litoral de Gaza, com o fim do bloqueio marítimo imposto por Isarel.
Agência Efe
Premiê, Benjamin Netanyahu, autorizou a invasão terrestre do território palestino; soldados já estão em Gaza
As condições foram apresentadas Azmi Bishara, ex-parlamentar em Israel e ex-secretário-geral do partido árabe-israelense Balad, obrigado a deixar Israel em 2007, por acusações de suposto envolvimento com o Hezbollah. Falando em nome do Hamas, Bishara também disse que Israel só aceitou a trégua humanitária de cinco horas pedida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para legimitar bombardeios futuros, no caso de o Hamas rejeitar o plano.
De fato, após o breve cessar-fogo cumprido na manhã de hoje, os ataques foram imediatamente retomados, culminando com o anúncio da invasão terrestre israelense no fim do dia.
Cronologia das tensões
A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.
Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.
A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas, que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.