Após mais um cessar-fogo entre israelenses e palestinos da Faixa de Gaza, que entrou em vigor nesta quarta-feira (03/05), após uma rodada de hostilidades que durou 24 horas, os dois lados acusam um ao outro e lidam com as consequências de mais essa escalada de violência.
O exército israelense negou que a trégua tenha sido negociada formalmente, admitindo apenas que o Comando de Frente Interna havia decidido pela “volta à rotina” nas cidades e vilarejos israelenses próximos à fronteira com a Faixa de Gaza. Já o porta-voz do grupo palestino Jihad Islâmica, Tariq Selmi, afirmou que “a rodada de confrontos” com Israel havia terminado.
Durante o dia anterior, terça-feira (02/05), a Jihad Islâmica lançou 104 foguetes contra Israel, atingindo principalmente a cidade de Sderot, que fica a apenas 1 km da fronteira com Gaza. Sete pessoas ficaram feridas, uma delas – um trabalhador chinês – gravemente. Casas e carros foram atingidos.
Apesar de os ataques terem sido realizados pela Jihad Islâmica, os israelenses responsabilizaram o Hamas, que controla Gaza deste 2007. A força aérea israelense atacou 16 alvos do grupo palestino Hamas em Gaza durante a madrugada de terça para quarta-feira. Um membro do Hamas foi morto.
A maioria dos ataques israelenses em Gaza se concentrou nas capacidades de armamento do Hamas, incluindo fábricas de armas, quartéis-generais, túneis subterrâneos e outros locais semelhantes.
Morte de resistente
A rodada de violência começou após a morte de um proeminente preso palestino em greve de fome em uma prisão israelense. Khader Adnan, ex-porta-voz da Jihad Islâmica na Cisjordânia, morreu sob custódia israelense na terça-feira, após uma greve de fome de 87 dias. Ele tinha 45 anos.
Adnan foi detido pelo menos 11 vezes desde 2004 e suas repetidas prisões e prolongadas greves de fome o tornaram um símbolo da resistência palestina a Israel. Desde os anos 1970, sete detentos palestinos morreram de greve de fome em prisões israelenses. O último caso havia ocorrido faz tempo: em 1992.
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Regiões da Faixa de Gaza já foram completamente destruídas por conta de bombardeios
A morte de Adnan provocou revolta na Cisjordânia. Teve protestos, uma greve geral e outros detentos palestinos entraram em greve de fome. O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de realizar um “assassinato deliberado” ao recusar libertar o prisioneiro, que já não estava bem de saúde. Israel, no entanto, afirma que Adnan é que recusou auxílio médico, que lhe foi oferecido.
A viúva de Adnan, Randa Musa, implorou por não-violência após sua morte, dizendo que ele não desejaria isso: “hoje dizemos que, com sua ascensão como mártir, não queremos que uma gota de sangue seja derramada”, disse Randa.
Coalizão pressionada
A troca de hostilidades com os palestinos de Gaza só piorou o clima interno da coalizão atual do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a mais direitista, ultranacionalista e ultraortodoxa da história de Israel.
Um dos membros mais radicais, o ministro da Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir, da facção “Força Judaica”, ameaçou abandonar o governo em protesto ao que ele considerou uma reação branda demais de Israel aos ataques com foguetes da Jihad Islâmica.
Caso Ben-Gvir cumpra a ameaça, a coalizão de Netanyahu, atualmente com 64 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento em Jerusalém, ficaria com apenas 58 assentos, número que inviabilizaria o governo.
Netanyahu já enfrenta manifestações populares contra seu plano de reforma judicial – que tem como objetivo enfraquecer a Suprema Corte do país – e encara a insatisfação do povo com o aumento do custo de vida e dos homicídios entre a minoria árabe do país. Seus aliados ultraortodoxos também o pressionam para aprovar uma lei que libere jovens religiosos do serviço militar.
Ao que tudo indica, o governo que começou há pouco mais de quatro meses está mais frágil do que nunca.