A queda de 10,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre no México, divulgada ontem pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi), confirmam as perspectivas de crise na economia do país.
Segundo Rodolfo Navarrete, diretor de análises da consultoria financeira Casa de Bolsa Vector, esta é a crise mais grave que o México enfrenta nos últimos 70 anos. No entanto, ele acredita que a classe política não está tomando as medidas necessárias para resolver a situação.
“Nenhum partido tem vontade política para enfrentar os problemas do país. Todos estão focados nas eleições de 2012. Já estamos em plena campanha eleitoral e ninguém está tomando decisões para resolver os problemas a curto prazo, ou seja, encontrar dinheiro para cobrir o déficit fiscal do país, nem mesmo para corrigir os graves problemas estruturais”, afirma Navarrete.
Por outro lado, o economista destaca que o setor automotivo poderá ter uma ligeira recuperação no terceiro trimestre, como reflexo do programa de incentivo para compra de carros nos Estados Unidos, que termina na próxima segunda-feira. “Veremos o que acontecerá depois. As exportações terão papel importante nisso”, acredita.
A economia mexicana sofreu a pior contração de um trimestre desde 1981 – quando se iniciaram as medições pelo Inegi. De acordo com o instituto, a contração do PIB é atribuída principalmente à queda das atividades industriais e do setor de serviços.
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Desemprego
De acordo com Navarrete, a crise econômica está afetando todo o mercado de trabalho e também o setor público, devido à redução do governo federal nos gastos públicos para 2010. “Os trabalhadores do setor público já são afetados. Há planos de grandes cortes em todas as secretarias e vai haver muito mais nos projetos da administração pública”, diz.
O dado é confirmado por muitos trabalhadores que perderam seus empregos nos últimos meses, como Rosário Barreras. “Há dois meses, perdi meu trabalho. Simplesmente acabaram os fundos públicos para o projeto de pesquisa social no qual trabalhei no último ano. No meu escritório foram dispensadas 14 pessoas em poucas semanas. Não há previsão de novos financiamentos e, certamente, vou ter que trabalhar como garçonete para sobreviver”, afirma.
Na mesma condição se encontram muitos profissionais que voltaram das férias de verão e foram dispensados.
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“A percepção de que a economia mexicana está em queda livre não é gratuita”, afirma Navarrete. “Mas, paradoxalmente, pode ser superada, graças à forte dependência à economia norte-americana. Se eles conseguiram recuperar sua economia, nós vamos segui-los, por sermos tão dependentes deles, e talvez nossa economia não vá para o precipício”.
De qualquer maneira, segundo o pesquisador, os próximos meses serão muito difíceis para a população mexicana, já que a situação aumenta a desigualdade entre ricos e pobres, segundo dados registrados entre agosto e novembro de 2008, quando a crise estava começando. “Se tivéssemos dados mais recentes, perceberíamos quão grave é a pobreza neste país”, concluiu Navarrete.
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