Quarta-feira, 11 de junho de 2025
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Uma pesquisa coordenada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que a família Dallagnol era a principal latifundiária, na década de 1970, da região onde fica hoje a cidade de Nova Bandeirantes (MT). Em 1978, durante a ditadura militar, a propriedade foi regularizada. O levantamento foi revelado neste domingo (21/07) pelo site De Olho nos Ruralistas.

A proximidade com a ditadura era essencial, na época, para a obtenção de latifúndios nas regiões Norte e Centro-Oeste. O fato de os terrenos em Nova Bandeirantes terem sido regularizados pelo Instituto de Terras do Mato Grosso (Intermat) em 1978, aponta, de acordo com o De Olho nos Ruralistas, que eles eram públicos.

O território ocupado pela família era equivalente ao território de Cabo Verde, na África, ou dois terços do Distrito Federal, cerca de 400 mil hectares – metade do atual município de Nova Bandeirantes. As propriedades eram maiores que as de famílias envolvidas com a ocupação de terras devolutas, como o paranaense Cecílio do Rego Almeida, fundador da construtora CR Almeida, e os Junqueira Vilela, de São Paulo.

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O estudo foi coordenado por Bastiaan Philip Reydon, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, com as assinaturas dos pesquisadores Ana Paula Bueno, Roberto Resende Simiqueli e Vitor Bukvar Fernandes. De acordo com os especialistas, até os anos 1980, a União dava uma matrícula ao Intermat, que vendia as áreas para pessoas interessadas.

Território ocupado pela família era equivalente ao território de Cabo Verde, na África, ou dois terços do Distrito Federal, cerca de 400 mil hectares - metade do município de Nova Bandeirantes

Divulgação

Município de Nova Bandeirantes, no Mato Grosso

“Em 1978, uma área de hectares foi arrecadada e legalizada pela família Dallagnon [sic] junto ao Intermat”, dizem. Eles informam que nos anos 80 as áreas começaram a ser demarcadas com base em pontos geodésicos. E que a colonização pela Coban foi iniciada em 1982. “A família Dallagnon também fez uma colonização com os hectares que foram adquiridos do Intermat”.

O sobrenome Dallagnol aparece no documento como “Dallagnon”, mas há outros erros de grafia ao longo do texto. Os Junqueira aparecem como “Junqueria”, por exemplo. O levantamento foi feito pelo Programa Matogrossense de Municípios Sustentáveis, em parceria com a Unicamp e o Instituto Centro de Vida (ICV).

Município de Nova Bandeirantes

Na época, os terrenos da família Dallagnol estavam no município de Alta Floresta. O processo de colonização foi tocado pela Colonizadora Bandeirantes (Coban), desmembrando a área da região de Alta Floresta e dando início à cidade de Nova Bandeirantes, em 1982.

A Coban surgiu por iniciativa de empresários paranaenses. “O dono da companhia, Daniel Meneghel, além de colonizador é diretor da Usina Bandeirantes, na cidade de Bandeirantes, norte do Paraná. Seguindo a vocação de desbravador de novas fronteiras, Daniel Meneghel implantou e desenvolveu na região o Projeto de Colonização Nova Bandeirantes. Ele investiu em estradas e pontes, além de outras providências necessárias à consolidação do projeto. A denominação Nova Bandeirantes foi homenagem à cidade de Bandeirantes-PR, especialmente pela origem do fundador do lugar – Daniel Meneghel”, diz o estudo.