A tensão pela qual passa a relação comercial entre China e Argentina pode beneficiar o setor de soja brasileiro. Isso porque Pequim cancelou a importação do óleo de soja argentino, alegando que o produto vendido possui níveis altos de hexano, solvente usado na produção do grão e demonstrou a intenção de comprar o óleo do Brasil e dos Estados Unidos.
O governo chinês garantiu o descarregamento do óleo de soja já embarcado, mas ratificou a postura de não comprar mais o produto dos argentinos. A medida representa um duro golpe a um dos setores mais dinâmicos da economia do país vizinho – 76% do óleo produzido na Argentina é vendido aos chineses.
O governo diz que a imposição chinesa faz parte de um processo de retaliação pelas medidas antidumping tomadas recentemente pela presidente Cristina Kirchner e também por haver sobre estoque da semente oleaginosa na China. O Ministério da Produção da Argentina tem aumentado as medidas antidumping para proteger a indústria argentina. As mais recentes definiram preço mínimo para a importação de calçados chineses e também estabeleceu direito antidumping aos fabricantes de isqueiros.
A tensão comercial levou o ministro das Relações Exteriores, Jorge Taiana, a se reunir no dia 2 de abril com o embaixador chinês na Argentina, Gang Zeng, para solicitar explicações. Ontem (7/4) vários funcionários partiram de Buenos Aires em direção a Pequim para negociar com o governo chinês.
Conforme apurado pelo Opera Mundi, a chancelaria argentina – que não quis se pronunciar – teve acesso a um documento realizado pelo Centro Nacional de Informação sobre Grãos e Óleos da China, em que se avalia substituir o óleo de soja argentino pelos de origem brasileira e estadunidense.
“O Brasil tem condições de exportar para a China entre 300 e 400 mil toneladas extra de óleo de soja num curto prazo, apesar de não termos capacidade para substituir a totalidade do volume que a Argentina comercializa com os asiáticos”, disse Carlos Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Azeites Vegetais do Brasil.
Lovatelli, no entanto, afirmou que seria “difícil” a China abrir mão de toda a produção argentina, já que Brasil e EUA – os outros grandes produtores mundiais de soja – destinam parte da produção para a fabricação de biocombustíveis.
Preocupação
O presidente da Câmara de Comércio Argentina-China Ernesto Fernández Taboada, afirmou ao Opera Mundi que “a situação atual é muito delicada e está sendo acompanhada com preocupação”. Para ele, a medida “era esperada, principalmente após as ações tomadas pelo governo argentino para conter a invasão de produtos chineses, mas surpreende que tenha sido tomada agora”. Contudo, segundo Taboada, “uma solução rápida deve ser alcançada em breve”, por ambos os governos.
A Argentina exportou no ano passado quase dois milhões de toneladas de óleo de soja para o país asiático. O cálculo para 2010 previa em torno de 2,313 milhões de toneladas, avaliadas em 1,9 bilhão de dólares. O país é o maior exportador mundial de óleo de soja e a China, um dos principais clientes. Caso a barreira imposta pelos chineses persista, poderia haver um prejuízo de 1,6 bilhão de dólares na balança comercial argentina.
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