Argentina: FMI diz que acreditou em plano 'frágil' de Macri para conceder empréstimo em 2018
Auditoria do órgão disse que estratégia do governo do então presidente era insuficiente frente às demandas financeiras da Argentina e que Macri não impediu que o dinheiro deixasse o país
Em uma auditoria divulgada nesta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que acreditou em uma estratégia “muito frágil” desenhada pelo governo do então presidente argentino Mauricio Macri (2015-2019) para poder conceder um empréstimo recorde de US$ 57 bilhões ao país em 2018.
No relatório da investigação, o Fundo diz que o plano de Macri era “frágil desde o início” e insuficiente face aos profundos problemas estruturais do país, incluindo “finanças públicas frágeis, dolarização, inflação elevada, fraca transmissão da política monetária, um pequeno setor financeiro interno e uma estreita base de exportação”.
Mesmo assim, o órgão disse que se rendeu às previsões de crescimento dadas pelas autoridades. Dos 57 bilhões de dólares que o empréstimo previa, o governo Macri recebeu US$ 45 bilhões.
O FMI também admitiu que o empréstimo “com a Argentina não atingiu os objetivos de restaurar a confiança na sustentabilidade fiscal externa, reduzir os desequilíbrios externos e fiscais, baixar a inflação, e proteger os segmentos mais vulneráveis da população”.
Além disso, o órgão disse que o governo deveria ter implementado um controle de capitais para ordenar o fluxo e impedir a fuga de divisas. De acordo com meios de comunicação locais, quase todo o crédito emprestado pelo FMI deixou a Argentina.
Macri não se pronunciou, mas o ministro da Economia que negociou o acordo na época, Nicolás Dujovne, disse que o acordo com o FMI se deu em “uma situação de excepcionalidade”. “[O pacto] Teve o apoio de todos os países-membros do FMI. Foi um apoio político mundial a um processo de mudança que havia começado no país”, disse, em um post no Twitter.
Marcos Corrêa/PR
Macri apresentou estratégia ‘fragil’ ao FMI, que mesmo assim concedeu empréstimo, admite órgão
Repercussão
Após a publicação dos resultados da auditoria, o presidente Alberto Fernández disse que o relatório “tendo em conta o que foi feito pela pessoa responsável [Macri], foi lapidar (…) Falamos ao Fundo sobre o assunto e, em todo caso, este deveria ter admitido o que já sabíamos”. Ele também manifestou também confiança em que o país chegaria a um acordo com o FMI sobre a reestruturação desta dívida.
Por sua vez, a porta-voz presidencial Gabriela Cerruti instou a organização a discernir “se os requisitos para a concessão de um empréstimo foram ou não cumpridos”, em referência à violação dos seus estatutos para a concessão deste empréstimo, especialmente tendo em conta os problemas estruturais da Argentina.
Ela argumentou que o FMI tem de ser “mais rigoroso quando concede empréstimos que mais tarde se tornam dívidas” e criticou o fato de este empréstimo ter sido concedido a “um espaço político, porque compromete muitas gerações”.
Cerruti também acusou o partido de Macri de endividar o país e de rejeitar o orçamento de 2022 no meio das negociações com o FMI para a dívida que contraíram, o que, segundo ela, “demonstra um grau muito significativo de irresponsabilidade”.
(*) Com teleSUR