A oposição entre sindicatos e governo continua nesta terça-feira (31/01) na França, onde são esperadas novamente grandes manifestações contra uma impopular reforma previdenciária desejada pelo presidente Emmanuel Macron, em que o aumento de 62 para 64 anos da idade mínima para a aposentadoria é uma das medidas mais polêmicas.
Enquanto quase 2 milhões de pessoas protestaram em 19 de janeiro durante a primeira convocação de greve geral, o índice de mobilização parece estar alto novamente. Uma fonte dos serviços de informação espera 1,2 milhão de manifestantes em nível nacional, em que 100 mil são aguardados apenas na capital Paris.
As primeiras passeatas estavam previstas para começar às 10h locais, 6h da manhã em Brasília. Mais de 200 manifestações estão previstas em toda a França. Em Paris, os protestos começarão às 14h locais, 10h da manhã pelo horário de Brasília.
A greve tem forte adesão no setor do transporte ferroviário, com tráfego de metrô e trens que ligam os subúrbios de Paris “fortemente interrompido”, além da rede ferroviária de alta velocidade TGV. A situação é ainda mais difícil para os trens regionais.
A SNCF, a empresa ferroviária nacional, prevê a circulação de apenas dois em cada dez trens regionais e de 25% a 30% de atividade para os trens de alta velocidade.
Uma hora de trem e 3 de ônibus
Em Bordeaux (sudoeste), o casal Josselin e Alicia Frigier levarou muitas horas para voltar de Madri, de ônibus, uma vez que o trem para a cidade de La Rochelle foi cancelado. “Nos propuseram uma hora de trem e três horas de ônibus”, explica a viajante. Seu marido, apesar do cansaço, admite que a greve “é seguramente por um bom motivo”.
Nos aeroportos, a greve dos controladores de tráfego aéreo deve causar transtornos e atrasos. A previsão é de cancelamento de um em cada cinco voos no aeroporto de Orly, ao sul da capital. Já no aeroporto Charles de Gaulle, ao norte de Paris, deve haver funcionários não grevistas o suficiente para garantir os voos programados, de acordo com a direção geral da aviação civil.
A greve também recebe forte adesão nas refinarias, em particular nas unidades da gigante TotalEnergies, em que de 75% a até 100% dos funcionários são grevistas, informou o sindicato CGT na manhã desta terça-feira.
“O fornecimento de produtos a partir das unidades da TotalEnergies está interrompido hoje, mas a TotalEnergies vai continuar a abastecer sua rede de postos e seus clientes”, assegurou a direção do grupo.
Os trabalhadores deste setor já tinham estado fortemente mobilizados nos dias 19 e 26 de janeiro: os carregamentos de combustível foram bloqueados durante 24 horas nas duas ocasiões, e as paralisações atingiram por vezes até 100% dos funcionários em alguns locais.
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É esperado novamente grandes manifestações nas ruas contra reforma de Macron
Quase 3 mil MW a menos
No setor de energia elétrica, a CGT e o site da empresa pública EDF informaram que os grevistas provocaram cortes de produção de “quase 3 mil MW” durante a noite, o equivalente a três reatores nucleares. Mas sem “nenhum impacto” para os usuários, informou Fabrice Coudour, secretário federal do sindicato FNME-CGT.
Também foi feito um edital nacional de greve de diversos setores profissionais para todo o serviço público, em que a ação anterior, em 19 de janeiro, mobilizou 28% dos 2,5 milhões de servidores estaduais, de acordo com dados do ministério.
Nas escolas, 50% dos professores de jardim de infância e primário devem aderir à greve, conforme informações do Snuipp-FSU, principal sindicato do ensino primário, isso após uma taxa de 70% de grevistas no movimento de 19 janeiro.
Popularidade em baixa
Os índices de popularidade do presidente e da primeira-ministra Elisabeth Borne caíram cinco pontos em um mês e meio, para 36% e 31%, respectivamente, de acordo com uma pesquisa publicada nesta terça-feira.
Apesar da crescente rejeição da opinião pública, o executivo se mantém firme: Emmanuel Macron considerou a reforma “indispensável” na noite de segunda-feira (30/01), depois de a premiê francesa ter estimado que o adiamento da idade legal para aposentadoria para 64 anos “não era mais negociável”.
O ministro do Interior Gérald Darmanin, que programou 11 mil policiais e agentes de segurança mobilizados em toda a França nesta terça-feira para acompanhar os manifestantes, acusa os partidos de esquerda de “bagunçar” o debate para “impedir sistematicamente o governo de avançar”.
Posições que traduziriam “uma certa agitação da maioria”, avalia Mathilde Panot, presidente do partido A França Insubmissa (esquerda radical) na Assembleia Nacional.
Cerca de 7 mil emendas foram apresentadas, incluindo 6 mil da esquerda, contra a reforma que cerca de 60 parlamentares, reunidos na Comissão de Assuntos Sociais, começaram a discutir na segunda-feira.
“Progresso social”
A França é um dos países europeus onde a idade legal de aposentadoria é a mais baixa, sem que os regimes de pensões sejam completamente comparáveis. São 65 anos na Alemanha, Bélgica e Espanha, e 67 na Dinamarca, de acordo com o Centro de Relações Europeias e Internacionais de Seguridade Social, um órgão público francês.
O governo optou por estender a jornada de trabalho, tomada em resposta à deterioração financeira dos fundos de pensão e ao envelhecimento da população. O Estado defende seu projeto ao apresentá-lo como um “avanço de progresso social”, em particular pela atualização de pequenas pensões.