Além de Argentina e Chile, outro país que lamentou a aproximação brasileira com o Irã foi a França, país que privilegiou a parceria com o Brasil durante o governo Lula. A revelação foi feita durante a visita do secretário de Estado adjunto para o Hemisfério Ocidental Arturo Valenzuela a Paris no dia 4 de fevereiro de 2010.
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Valenzuela manteve uma reunião com o conselheiro de Américas da Presidência francesa, Damien Loras, para discutir a situação do Haiti – duas semanas antes o país havia sido devastado por um terremoto, que deixou 220 mil mortos.
A conversa girou em torno da necessidade de fazer com que os haitianos se sintissem donos do processo de reconstrução, ao mesmo tempo em que Loras demonstrou descrença na reforma do governo haitiano, marcado pela corrupção. Sobre a estratégia francesa, Loras deixou claro que gostaria de ver um papel maior do Brasil, mesmo que fosse “às custas” do papel francês.
Segundo ele, o governo francês quer encorajar o Brasil a ser mais ativo no cenário internacional, tornando-se uma liderança global. Mas o francês não poupou críticas à política externa d então presidente Lula.
“Chamando a diplomacia brasileira de espelho dos velhos valores Sul versus Norte, Loras enfatizou que o mundo ocidental precisa se ‘unir’ em tornos de países emergentes em face da crescente influência dos chineses”, relata o embaixador francês no despacho confidencial, enviado em 16 de fevereiro de 2010. “Loras sugeriu que Lula deseja se unir aos EUA e à França em muitos assuntos multilaterais, mas está sendo ‘seduzido’ pela China, que foi em 2009 o principal parceiro comercial do Brasil”.
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Em contraponto, disse ele, o presidente francês, Nicolas Sarkozy está “apostado no Brasil”, com a intenção de manter laços duradouros, independente de quem sucedesse o brasileiro. Até por isso, o governo francês teria ficado “desapontado” com a decisão brasileira de receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, mas não surpreso, “já que Lula não compreende totalmente as questões internas do Irã e acreditava que poderia atuar como mediador como fez com a Palestina”.
Ele também disse aos norte-americanos que existe dentro do governo brasileiro um grupo que quer ter poderio nuclear – deixando para isso a porta aberta.
Valenzuela reconheceu os progressos feitos por Lula, mas levantou sua preocupação com “a decisão ingênua do Brasil em se engajar com o Irã”. Ambos concordaram em tentar dissuadir o governante brasileiro, buscando maior alinhamento com os EUA e a França.
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