A Justiça da França emitiu um mandado de prisão internacional nesta quinta-feira (21/04) contra o brasileiro Carlos Ghosn, o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, como parte de uma investigação por abuso de ativos corporativos, corrupção e lavagem de dinheiro.
Ghosn, que possui ainda as nacionalidades libanesa e francesa, deveria ter sido julgado em Tóquio por peculato financeiro. Mas ele mora em Beirute desde que fugiu do Japão, no final de 2019, e o Líbano não extradita seus cidadãos.
As investigações apontam para 15 milhões de euros em pagamentos suspeitos entre a RNBV (a aliança Renault-Nissan), que Ghosn liderou, e a distribuidora de veículos da fabricante francesa em Omã, a Suhail Bahwan Automobiles (SBA), disseram os promotores de Nanterre, no subúrbio de Paris.
Eles alegam que Ghosn movimentou milhões de dólares de fundos da Renault por meio da distribuidora de carros para seu uso pessoal, inclusive para a compra de um iate. O juiz de instrução em Nanterre emitiu cinco ordens de prisão internacionais, que além de Ghosn miram os atuais e ex-líderes da empresa SBA, de Omã.
A investigação francesa se concentra em supostas interações financeiras impróprias com o distribuidor da Renault-Nissan em Omã, pagamentos de uma subsidiária holandesa a consultores e festas luxuosas organizadas no Palácio de Versalhes. Ghosn foi ouvido como testemunha e precisaria estar na França para ser formalmente indiciado e ter acesso aos detalhes das acusações que enfrenta.
Olivier Lejeune/Le Parisien/MAXPPP/dpa/picture alliance
Carlos Ghosn se escondeu numa caixa de equipamentos musicais para fugir do Japão para o Líbano
Empresário fez fuga especular do Japão
O empresário – então chefe da Nissan e líder de uma aliança formada entre Renault, Nissan e Mitsubishi Motors – foi detido no Japão em novembro de 2018 por suspeita de má conduta financeira junto com seu principal assessor, Greg Kelly. Ambos negaram irregularidades.
Em dezembro de 2019, enquanto aguardava julgamento, Ghosn executou uma fuga audaciosa do Japão. Ele se escondeu dentro de uma caixa de instrumentos musicais e foi levado num jatinho particular primeiro para a Turquia e, depois, para o Líbano. Ghosn desembarcou em Beirute, que não tem um acordo de extradição com o Japão.
O ex-executivo de 68 anos disse que fugiu porque não acreditava que teria um julgamento justo no Japão, onde os promotores têm uma taxa de condenação de quase 99% nos casos que vão a julgamento. Ele também disse que a Nissan conspirou com os promotores para prendê-lo, porque queria aprofundar a aliança da empresa japonesa com a Renault.
Advogado diz que mandado francês é “surpreendente”
Um de seus advogados, Jean Tamalet, afirmou à agência de notícias AFP que o mandado francês foi “muito surpreendente, porque o juiz de instrução e o promotor de Nanterre sabem perfeitamente que Carlos Ghosn, que sempre cooperou com a justiça, está sujeito a uma proibição judicial de deixar o território libanês”.
Na França, um porta-voz de Ghosn afirmou à agência de notícias Reuters que o mandado de prisão emitido pela Justiça “é surpreendente, pois Ghosn sempre cooperou com as autoridades francesas”.
As autoridades de Nanterre visitaram Beirute duas vezes durante sua investigação, interrogando duas testemunhas em fevereiro depois de terem falado com Ghosn no ano passado junto com investigadores de Paris.