O governo francês anunciou nesta segunda-feira (4/07) a composição de seu novo Executivo, depois das eleições legislativas de junho. Liderado pela primeira-ministra Elisabeth Borne, o novo governo traz mudanças importantes, como a saída de Damien Abad, acusado de tentativa de estupro.
A mudança já era esperada pelo menos em três ministérios já que o governo Macron havia prometido que os ministros que concorressem a cargos de deputado e perdessem nas urnas seriam retirados do governo. Dos quinze ministros-candidatos, três perderam suas disputas regionais.
É o caso da ministra da Saúde, Brigitte Bourguignon, substituída pelo médico urgentista François Braun, 59 anos, que assume o cargo em meio a uma nova onda de contágios da covid-19 na França. Chefe da emergência do centro hospitalar regional de Metz-Thionville e do Samu de Moselle, no leste francês, região duramente atingida no início da primeira onda de Covid, ele foi responsável por organizar a transferência de pacientes para outros territórios. Entre outras medidas, ele propõe melhorar o atendimento noturno nos hospitais.
Amélie de Montchalin, que ocupava a pasta da Transição Ecológica e também não foi reeleita será substituída por Christophe Béchu. Embora pouco conhecido por suas ações ambientais, trata-se de um nome próximo ao ex-primeiro ministro Édouard Philippe. O presidente Emmanuel Macron reafirmou, durante a campanha, a importânica que a luta contra o aquecimento global assumiria durante seus cinco anos de mandato. Porém, depois de Amélie de Montchalin, a nomeação de mais um novato na área envia uma mensagem dúbia, segundo analistas políticos.
Também derrotada nas eleições legislativas, a secretária de Estado encarregada do mar Justine Benin deixa o governo. Quem assume a pasta é o deputado Hervé Berville, que foi o “representante pessoal” de Emmanuel Macron em Kigali em 2019, durante a 25ª comemoração do genocídio em Ruanda, seu país natal.
A nova composição do governo francês, formada por 41 ministros e uma primeira-ministra, mantém a paridade de 21 homens e 21 mulheres, incluindo a chefe de governo, Elisabeth Borne.
Os nomes anunciados terão um desafio pela frente para ajudar o presidente Emmanuel Macron a aplicar sua agenda reformista e liberal, após ter perdido a maioria absoluta nas eleições legislativas de abril. O grupo macronista tem 250 deputados, 39 a menos do que o necessário para ter a maioria absoluta.
Sai ministro acusado
O anúncio de maior destaque desta segunda-feira não foi a chegada de novos ministros, mas sim a saída de um dos três membros do gabinete anterior acusados de estupro.
Damien Abad, que liderava o ministério das Solidariedades e é suspeito em uma investigação da justiça francesa por tentativa de estupro, foi excluído do novo governo. Abad nega as acusações. Para o lugar dele foi nomeado o diretor da Cruz Vermelha Francesa, Jean-Christophe Combe.
O ministro do Interior Gérald Darmanin, também acusado de estupro mas sem investigações em curso, segue no cargo e assume a pasta de territórios ultramarinos. No início do ano, o Ministério Público francês pediu o arquivamento de uma denúncia por estupro contra o político.
Chrysoula Zacharopoulou, ex-secretária de Estado para o Desenvolvimento, Francofonia e Associações Internacionais e que foi alvo de duas denúncias de estupro supostamente cometidas no contexto de sua profissão de ginecologista, mantém o seu cargo.
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Elisabeth Borne, primeira-ministra francesa que lidera o novo governo
O ex-ministro da Saúde Olivier Verán, que atualmente se encarregava das relações com o Parlamento, assume como o novo porta-voz. Ele substitui Olivia Grégoire, que será responsável por assuntos ligados a pequenas e médias empresas, comércio, artesanato e turismo.
A entrada de maior destaque no novo governo é a da economista Laurence Boone, que foi assessora Econômica Especial da Presidência durante o mandato do socialista François Hollande e economista-chefe e Secretária-Geral Adjunto da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ela substitui Clément Beaune na pasta de Assuntos Europeus. Beaune, por sua vez, foi nomeado ministro delegado dos Transportes, cargo com maior visibilidade na cena política nacional.
Marlène Schiappa, leal a Emmanuel Macron, foi nomeada secretária de Estado para a Economia Social e Solidária e Vida Associativa. Ex-ministra Delegada da Cidadania, ela é uma das personalidades mais conhecidas dos macronistas e volta ao governo, depois de ter deixado o Executivo após as eleições presidenciais. Durante o primeiro mandato de Emmanuel Macron, Schiappa foi a primeira secretária de Estado responsável pela Igualdade entre homens e mulheres e pelo combate à discriminação, entre 2017 e 2020.
Jean-François Carenco, que até agora presidia a Comissão de Regulação Energética, assume o posto de ministro dos Territórios Ultramarinos, em substituição a Yaël Braun-Pivet, eleita Presidente da Assembleia Nacional na terça-feira passada.
O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou um Conselho de Ministros ainda nesta segunda-feira. Na prática, a reforma ministerial representa o início do segundo mandato do presidente centrista e encerra um período de incerteza desde a reeleição, em 24 de abril.
A chefe de governo Elisabeth Borne já iniciou a negociação com a oposição de seu primeiro projeto de lei, um pacote de medidas para proteger o poder aquisitivo dos franceses e que o governo espera aprovar entre o fim de julho e o início de agosto. O aumento dos preços – especialmente dos combustíveis e dos alimentos – provocado pela guerra na Ucrânia é a principal preocupação dos franceses e um sinal de alerta para Macron, que teve o primeiro mandato marcado por grandes protestos sociais.