As autoridades francesas informaram nesta quarta-feira (27/11) que não vão fornecer ajuda ao Chile para conter os manifestantes que tomam as ruas de Santiago. O governo chileno havia anunciado no fim de semana que serviços de polícia vindos da França, mas também da Inglaterra e da Espanha, iriam aconselhar as forças de ordem locais.
O ministro do interior do Chile, Rodrigo Ubilla, chegou a detalhar a operação conjunta. Segundo ele, o objetivo dessa eventual parceria com as polícias europeias seria “avaliar como, em situações de fortes conflitos e violência, se poderia melhorar o trabalho de controle da ordem pública”.
A França não confirmou nem desmentiu o pedido de ajuda, mas foi categórica: “Nós não conduzimos nenhuma cooperação sobre a preservação da ordem às autoridades chilenas atualmente. Os projetos eventuais que deveriam ser realizados foram adiados”, informou a polícia francesa à AFP.
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As forças de segurança francesas foram alvo recentemente de críticas severas diante de sua ação durante as manifestações dos “coletes amarelos”. Os policiais da França foram acusados de tentar conter os protestos usando potentes balas de borracha e bombas que cegaram e mutilaram vários manifestantes.
Mais de 20 mortos e 2 mil feridos no Chile
Já o Chile, segundo a ONG Human Rights Watch, vem sendo palco de “graves violações dos direitos humanos por parte da polícia”. O diretor da entidade para a região Américas, Jose Miguel Vivanco, afirma ter recebido centenas de denúncias de uso excessivo da força e de abusos cometidos contra os detidos.
Desde que as manifestações populares tomaram conta das ruas do Chile, há pouco mais de um mês, 23 pessoas morreram – cinco delas durante intervenções das forças de ordem – e mais de 2 mil ficaram feridas.
Colectivo 2+/Carlos Vera M.
Desde que as manifestações populares tomaram conta das ruas do Chile, há pouco mais de um mês, 23 pessoas morreram
Os saques em um hotel e em vários supermercados, além de incêndios em diferentes partes do Chile registrados nas primeiras horas desta quarta-feira aumentaram a tensão na crise social que atinge o país há seis semanas. “Está alcançando níveis de violência que não eram vistos no Chile desde o retorno à democracia” [em 1990], declarou o ministro da Defesa Alberto Espina, falando ao Congresso.
Um dos episódios mais violentos foi registrado na cidade de La Serena, um dos principais resorts à beira-mar na costa norte do país, a cerca de 480 quilômetros de Santiago, com saques e queima de um hotel tradicional no centro da cidade, o Costa Real. Já na cidade portuária de San Antonio, na região de Valparaíso, manifestantes atearam fogo nas instalações do jornal local El Líder.
Em Santiago, a estação de metrô “República” – localizada em um distrito universitário no centro – sofreu novamente danos que obrigaram as autoridades a suspender sua operação, acrescentando um novo problema à rede ferroviária metropolitana onde a revolta começou em 18 de outubro e terminou com mais de 70 estações danificadas.
O movimento “No+Tag” – que exige uma queda nos preços das tarifas rodoviárias e que as dívidas sejam perdoadas para os usuários dessas estradas – retomou as principais vias de acesso de Santiago, causando engarrafamentos.